Na constelação moral da América dos anos 50, a América contra a qual «Rebel without a cause» foi arremessado, Kinsey percebeu que a única forma de acabar com o preconceito era mudar o conceito. Mudar o que se entendia por «normal», mudar o âmbito de «normalcy». Como? Equacionando-o com o «normal», no sentido de ser «comum». E o que era o «normal»? Ninguém sabia. Descobri-lo, expô-lo, passou a ser a tarefa da sua vida. Opor o descritivo ao prescritivo, opor o «como as coisas são» ao «como as coisas deveriam ser». Esse trabalho, obsessivo e quase insano, teve, nesta medida, um impacto emancipatório cuja importância é difícil exagerar. O que o filme não explora a sério é a forma como Kinsey acabou por transformar o descritivo num novo prescritivo, reproduzindo, em simétrico, o exacto mecanismo que visava contrariar. Kinsey criou um «dever ser» novo, agora supostamente espelho do «como as coisas são». E, de passagem, assumiu para si o papel,
self-styled, de apóstolo desse novo moralismo, uma espécie de «Pide bom». Uma tirania das fórmulas como qualquer outra, tão má – nomeadamente – como a do seu pai, o «Pide mau».
Rui