O meu nome é João Pedro George. Não era o tipo de aluno que era esperto na escola. Tinha o hábito de intimidar. Sentava-me ao lado do rapaz mais pequeno da aula, o mais inteligente. E quando tínhamos de fazer testes, dizia-lhe: “Se não me deixares ver o teu teste vou apanhar-te depois das aulas...” E ele ficava tão assustado, que dizia: “Por favor, João Pedro. Por favor, eu faço qualquer coisa. Tu... Tu podes ver. O que queres? Mostro-te tudo?” Eu dizia: “Dá-me a resposta às perguntas 10 e 11”. E ele passava-mas. “E se contares isto a alguém é melhor não vires mais à escola”.
Vou ser o próximo campeão olímpico. Vou acabar com todos os vadios. E se se armarem em espertos, acabo com todos vocês. Eu voo como uma borboleta e pico como uma abelha. Acertei-te! Boa. Vem cá, parvalhão! Sou jovem, sou bem parecido, sou rápido, sou bonito e ninguém me pode derrotar. Estás a ouvir-me, Camões? Estou aqui para acabar com o teu reinado. És demasiado feio para seres campeão. O campeão mundial devia ser bonito como eu. Camões começa a recuar. Se Camões continua a recuar, no banco da primeira fila vai acabar. Um soco com a esquerda, um soco com a direita. Camões continua a recuar, mas não existe espaço suficiente. De tempo, é só a questão. Sou um turbilhão. Camões desaparece de vista, o público está a ficar frenético. Mas as nossas estações de radar interceptaram-no, ele está algures no Atlântico.
Eça de Queiroz não está à minha altura. É demasiado pequeno, é demasiado lento... não tem amplitude, não sabe dar um soco, não bate com força e não conhece o jogo dos pés. Previ, pelo modo como fala de mim, que eu iria dar-lhe uma bela coça e estou muito grato por ele ter tido a força para se levantar, porque aquilo que levou foi uma bela coça. Dei-lhe oito socos consecutivos no queixo. Pim, pam pum! Desmoronou-se como um grande edifício. O meu sangue está quente. Sou um guerreiro, sou um combatente. Sou o peso-pesado mais rápido, o mais elegante, o mais científico e o mais artístico de sempre. Sou mesmo o melhor de todos os tempos.
Se julgam que o mundo ficou espantado com o Fernando Pessoa esperem até eu dar cabo dele. Ele é um touro. Eu sou o matador. Pessoa está morto de medo. Pessoa encontrou o seu mestre, o seu professor, o seu ídolo. Sou o maior. Já disse ao mundo. Converso com Deus todos os dias. Se Deus está comigo, ninguém pode estar contra mim. Eu abalo o mundo! Eu abalo o mundo! Sou o rei! Sou o rei do mundo!
I done wrestled with an alligator. I done tussled with a whale. I done handcuffed lightning – throw thunder in jail! That’s bad! Last night, I cut the light off in my bedroom. Hit the switch and was in the bed before the room was dark. Only last week, I murdered a rock. Injured a stone. Hospitalized a brick. I’m so mean, I make medicine sick!
Sou mau! Sou terrível. Sou veloz. Sou bonito. Sou rápido. Abalo o mundo! Abalo o mundo! Abalo o mundo! Dois jabs esquerdos rápidos, um cruzado direito rápido e um gancho esquerdo. Não tenho de ser aquilo que tu queres que eu seja. Sou livre de ser o que quero ser. O preço da liberdade é muito alto. Esta noite sou livre
João Pedro (a partir das entrevistas de Muhammad Ali)