Este fim de semana regressei à minha condição de cidadão Nunes e passei pelo Fórum das Novas Fronteiras. Como é costume, à medida que se sucediam as intervenções, a sala de congressos do Estoril ia ficando mais vazia. (Isto tornou-se particularmente evidente quando Eduardo Lourenço apresentou o seu novo conceito de «
portugalidade como lençol da Europa».) De repente, aterra no palco Martin Schultz, do SPD alemão. Schultz é líder parlamentar do Partido Socialista Europeu, e ficou mundialmente conhecido quando Berlusconi o apelidou de «capo» de campo de concentração. Uma injustiça, não duvido. Mas quem ouve um político alemão a discursar, percebe logo que o nazismo só podia vir dali. Enquanto Schultz falou, a sala encheu e ficou verdadeiramente hipnotizada com o carisma da língua. Tirando o «
PS Kampf ist mein Kampf», não percebi nada sem a ajuda da tradução. Pareceu-me ouvir falar em «
nazional socialismus», mas não juro. Duvido que alguém tenha percebido alguma coisa. Até porque não era isso que interessava. O que fascinava era a forma como Schultz dizia as coisas. A brutalidade daquela língua. Heidegger escreveu que «
só se pode pensar em alemão». A mim, basta-me ouvir alemão para ficar livre de qualquer espécie de pensamento. Se naquele fim de tarde Herr Schultz nos tivesse mandado invadir a Espanha de Zapatero, o que era, até então, um Fórum de gente pacata transformar-se-ia numa nova Legião Condor.
Filipe