Lembro-me bem de achar o
Eternal Sunshine of the Spotless Mind falacioso. Eles sabem, porque ouviram nas respectivas cassetes, o que e por que correu mal, mas não têm memória disso. Sabem, cerebralmente, mas verdadeiramente não se lembram, emocionalmente. Se se lembrassem, mais do que apenas soubessem por ouvir dizer, duvido que continuassem. É um daqueles casos em que saber só não chega. Assim – e se excluirmos a bondade da ideia de que a noção clássica da cara metade é trunfo – resta apenas um comício; terno, muito bem feito, imaginoso, belo, mas um comício ainda assim. Uma falsa consciência como qualquer outra, uma ideologia tão emancipadora como o marxismo-leninismo de Bernardino Soares. Até porque é justamente tudo aquilo que se tem de fazer para enterrar alguém em nós, em vida, que torna difícil o continuar depois como se nada fosse; como se nada fosse, não: como se isso não fosse a negação mesma daquela pessoa em que, entretanto, nos tornámos.
Rui