Quando, no livro, ela lhe diz que precisa de homens muito mais velhos do que ele, alguém com cem anos, talvez entrevado numa cadeira de rodas, temos a confirmação que ela sabe coisas sobre o ser humano, que há ali uma sabedoria antiga a falar. E compreendemo-los: eles são iguais e ela é tão velha como ele. No filme, nessa mesma cena (a cena em que ela, recordo, dança para ele), achamos que ela diz isso só para fazê-lo sentir-se melhor com a idade – e lamentamo-los. Eles já não estão de igual para igual, nem já velhos por igual; de repente, são apenas a jovem que se meneia em frente do velho professor movido a viagra, a quem lubrifica o ego com uma frase de consolação barata e triste. No livro, ela diz-lhe «és tu que és novo para mim»; no filme, ela diz-lhe «és um velho». É como se Faunia tivesse espetado uma estaca no coração do vampiro e este tivesse envelhecido, apodrecido, de um momento para o outro. A diferença entre o livro e o filme está um bocado nisto.
Rui