O Alexandre, o filme (não o Borges), é uma grandessíssima seca. E isto bastaria. Contudo, fica só uma coisa a sobre o propalado tratamento correcto da relação homossexual de Alexandre com Hefaísto que contrastaria com a malévola e laboriosa ocultação da relação entre Aquiles e o primo, Práctolo: por que raio hão-de os macedónios de séculos e séculos antes de Cristo ter um ar e um comportamento amaricado? Que eles têm um ar amaricado no filme é indesmentível. Jared Leto de pijama de seda e eye-liner, é assim que nascem certos posters de culto. Colin Farrel parece que tem uma gemada na cabeça. Parece, não: tem mesmo. Quer dizer, a categoria «ar amaricado» ou «sissy» é nossa, de agora, eles não poderiam nunca ver as coisas desse modo, nem ter de si próprios essa imagem, nem comportar-se assim. A noção de «maricas» não existia, logo eles não podem, com realismo, ser apresentados com esse arzinho. Era como se o Cassandro (o belo Rhys-Meyers também dá o mesmo arzinho da sua graça) se afirmasse ecologista em pleno Afeganistão ou o Parménio pós-estruturalista, às voltas no Iraque. «Ecologista», «Afeganistão», «pós-estruturalista» e «Iraque» são tudo coisas depois de Cristo. Chama-se a isto anacronismo, e é trágico e entediante. E o tédio, como dizia o outro, é sempre contra-revolucionário. A não ser que se pegue de propósito no anacronismo para fazer sátira genial, como, em A Vida de Brian, a cena do The People’s Front of Judea, por exemplo. Não é o caso.
Rui