Depois de uma noite bem passada na cama com ela, de manhã:
«Sabes, eu gosto muito de ti e não te queria magoar. Gosto de ti, mas não dessa maneira. Por isso, acho que não devíamos voltar a ir para a cama um com o outro. Porque te respeito como pessoa, repara.»
Passou uma semana e tudo lhe pareceu diferente a ele. E voltaram a ir para a cama. E ele voltou a professar na manhã seguinte a sua estrénua amizade. E fez isto repetidamente até o não poder fazer mais, não por uma questão de consciência ou de impotência (dois aspectos não raro intimamente relacionados), mas porque ela se mudou dali. Ela, que bem percebia tudo, nunca disse nada. Nunca se incomodou excessivamente, nem com a fragilidade dele – na qual descobria a sua força –, nem com a imagem dela na fotografia. Em vez disso, andava sempre com um cigarro de chocolate, o qual, entretanto, desembrulhava e lentamente chupava.
O que mais poderá espantar é que sempre que ele o dizia, era verdade porque o sentia. Nunca lhe mentiu. Aliás, normalmente até prometia: «a única promessa que te faço é ser sincero contigo.» E nem aí estava a mentir, pois cumpriu sempre. A questão não é essa. A questão é que ao fim de uma semana sem, a ética fica modificada.
Rui