Os títulos dos últimos livros de António Lobo Antunes são, no mínimo, desconcertantes. Mas este que está para sair, então, ultrapassa tudo: Eu Hei-de Amar uma Pedra. Como interpretar a afirmação? Primeiro aspecto: Lobo Antunes quer amar uma pedra. É a manifestação legítima de um desejo. Está no seu direito. Mas será uma pedra qualquer? Sinceramente não acredito. Não acredito que um escritor tão eminente como António Lobo Antunes se vá interessar pela primeira pedra que aparecer, tipo pedra da calçada ou um desses calhaus estúpidos em que tropeçamos, como qualquer adolescente apaixonado. Não, Lobo Antunes é mais o género de se apaixonar por uma pedra do rim. Essa sim é uma pedra que dá luta, capaz de subjugar e amansar um escritor de barba rija, irascível e fanfarrão como o autor de Os Cus de Judas. E como levá-la para a cama? Dizendo-lhe, com um sorriso lúbrico na cara: quero comer-te toda? Essa pagava eu para ver, Lobo Antunes a trincar uma pedra. Com títulos tão difíceis de mastigar como este, era o mínimo que o escritor podia fazer pelos seus leitores. Pronto. Não é tanto assim. Mas que tenho razão tenho.
João Pedro