Entre as razões por que achei o filme «O Candidato da Verdade» fracote está a escolha de Meryl Streep para o papel de mãe do candidato Liev Schreiber. Streep é capaz de grandes desempenhos, como em «A Escolha de Sofia» e «As Pontes de Madison County», para dar dois exemplos espaçados no tempo. Mas não é o caso deste filme, apesar do que logo se disse por aí. A escolha de Meryl Streep para este filme foi um erro de casting. Meryl é simplesmente incapaz de transmitir a necessária e sórdida sensualidade às personagens que interpreta. Ela poderá ser bonita, ou ter sido bonita: não é por aí, nada disso tem que ver com sensualidade. Meryl é uma senhora que pode e consegue transmitir toda uma vasta gama de emoções, menos o tesão. Aquela personagem de mãe e senadora, aquela bitch on wheels, precisava dessa última coisa do mal, a volúpia da sensualidade levada ao incesto, se necessário fosse. E era. Era desejável que fizesse bingo com todos os estereótipos e interditos culturais que envolvem sexo, mãe e poder. Para o papel, seria talvez preciso a Angelica Houston de «The Grifters». Angelica faz como ninguém a mulher disposta a tudo, a rigorosamente tudo, para conseguir o que quer. Deste ponto de vista, Houston é o exacto oposto de Meryl Streep, pois toda a sua representação está ensopada de sensualidade. Alguém consegue imaginar Meryl a fazer um strip? Eu não. (E a Sally Field? É outra que tal). Lembro a cena da senadora com o filho, o vice-presidente eleito. O modo como a cena é filmada sugere de imediato que irá suceder qualquer coisa. Ele, de tronco nu, muito bonito, quase um boneco, hirto, no limite - útil para a cena - do não humano (nem Jude Law faria melhor); ela, toda vestida de branco alvo, roborizada, cabelo apanhado atrás em nó, cabeça à altura da anca dele. Cabeça à altura da anca, nua, dele, e a olhar para cima. A cena prossegue da forma esperada, mas não da forma previsível: um beijo na boca, uma coisa pífia. Volto a puxar o «The Grifters» para recordar a cena, muito melhor, em que Houston seduz e aldraba o filho, John Cusack, jogando com a atracção que sempre nele - e em nós que vemos o filme - soube despertar e manter (cuidadosamente alimentando na cabeça de Cusack a incerteza sobre se de facto é mãe dele, por exemplo). Todavia, o espectador interessado em ver uma cena bem feita na qual uma mãe, francesa, partindo da mesmíssima posição pela anca do filho, faz o que dela se espera, deverá dirigir-se à cena respectiva em «La Grande Bouffe», e ver como aquela senhora usa de todos os argumentos para evitar que o filho saia de casa para ir beber uns copos com os amigos. Rui