«Mulher escritora, por via de regra pouco exceptuada, é um homem por dentro. O coração, que devia ser urna de suavíssimas lágrimas, faz-se-lhe botija de tinta; e as doces penas da alma metalizam-se-lhe aguçadas em penas de aço. O fuso de Lucrécia e da rainha Berta desfez-se em canetas. Em vez de tecerem o seu bragal, urdem intrigas. Suspiram publicamente em 8º. português, 250 páginas; e, quando não suspiram, bufam cóleras represadas; dizem que têm ideias, que se querem emancipar, muito escamadas, naturalistas, com um grande ar de pimponas que entraram no segredo dos processos; e, se não batem nos homens, não é porque eles não mereçam. [...] Dom Francisco Manuel de Melo tinha razão: - Mulheres doutoras, autoras e compositoras dava-as ao Diabo. [...] Não há feminilidades que se respeitem desde que a mulher se masculiniza, e, como escritora virago, salta as fronteiras do decoro, solfradando as espumas das rendas até à altura da liga azul-ferrete.»
[Camilo Castelo Branco, A Senhora Rattazzi, Lisboa, Frenesi, 2001 (1ª. ed. 1880), pp. 11-12]
Rui