ESPLANAR

JOÃO PEDRO GEORGE
esplanar@hotmail.com

quinta-feira, novembro 11, 2004

 

Literatura e golos

Falta um minuto para terminar o último jogo do campeonato. Joga-se a cartada decisiva. Empate a zero e… o árbitro assinala pénaltiiii!!! O estádio do Riazor vem abaixo. O Deportivo de La Coruña está a um passo de se tornar campeão de Espanha. O empate é suficiente, mas o Barcelona está à espera de uma “escorregadela” dos galegos. Vinte e cinco milhões de espanhóis estão a escutar a rádio ou em frente à televisão. Sem Bebete e sem Donato, as atenções viram-se todas para o jugoslavo Djukic, outro especialista na marcação da grande penalidade. O jogador coloca o esférico no círculo branco de cal. “Já não ouvia a gritaria do público, que se ia apagando a pouco e pouco, à medida que o instante decisivo se aproximava. Djukic só ouvia o bater do seu coração e o ruído entrecortado da sua respiração ofegante”.
Meias-finais da Taça da Europa. Real Madrid e Inter de Milão defrontam-se num encontro de tudo ou nada. O húngaro Szentkuthy (o “Kentucky”), jogador madrileno, marca um golo que põe em silêncio um estádio repleto de 100 mil adeptos. No Paraguai, Goyo Luna, extremo esquerdo do Sol América, marca golo e bate com a cabeça no poste da baliza adversária. Na Argentina, num jogo entre o Estella Polar e o Deportivo Belgrano, a angústia do guarda-redes Díaz antes da marcação do pénalti mais longo do mundo. Ainda no país das pampas, Juan António Felpa (o “Gato”), operário das Fábricas Unidas e guarda-redes do Sportivo Atlético Club, faz asneira num clássico de província.
Estas e outras histórias encontram-nas em Contos de Futebol (vários autores, Relógio d’Água), um livro que inclui relatos de diferentes autores espanhóis e hispano-americanos onde a literatura é o desporto-rei: Mario Beneditti ou Javier Marías, Augusto Roa Bastos ou José Luis Sampedro, Osvaldo Soriano ou um Jorge Valdano em grande forma. Do conjunto, todavia, sobressai uma certa dependência literária da figura do guarda-redes e do momento da marcação do pénalti. Por que não um conto em que a acção se centra no decorrer dos 90 minutos do jogo, com as estratégias de cada equipa, as instruções dos treinadores, as jogadas, os cruzamentos, as fintas…? E uma história que descreva o ambiente que se vive nas bancadas, com os diálogos e os berros dos adeptos a pontuarem a acção? Era giro!
João Pedro



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