A força de um país mede-se, em grande medida, pela capacidade de resistência que os seus cidadãos revelam a pronunciarem correctamente nomes estrangeiros. Tirando o caso dos pilotos da TAP, já aqui oportunamente analisado pelo Alexandre, não conheço nenhum português que não se esforce por falar o inglês dos anglófonos, «o poder» de que fala Caetano Veloso. Em Espanha não é assim. Mesmo pessoas não menos eruditas do que eu ou a
Sara, fazem questão de afirmar a sua hispanidade quando se referem, por exemplo, a figuras ou filmes americanos.
No último dia de campanha eleitoral nos Estados Unidos, o telediário da TVE falava do concerto de apoio a Kerry dado pelo «cantante estadunidense Bru [pausa] Sexpringstí». Julgo que se naquele momento o Boss estivesse sintonizado na TVE, dificilmente teria percebido que estavam a falar dele. Em seguida, outro correspondente, falava-nos da campanha de George W Bush, que em Espanha se pronuncia «Dgeór Dubleube Bú».
Num jantar de despedida, partilhei, um pouco a medo, esta minha constatação com uma amiga espanhola. Disse-lhe, em todo o caso, que me parecia muito bem esta afirmação de identidade nacional. Ela discordou; é uma mulher de esquerda, cosmopolita, que não aceita ver o seu inglês confundido com o do senhor Aznar. Mudou de assunto, até porque queria falar de um filme que tinha visto nessa tarde - o «Expiderman».
Outras coisas a não perder em Madrid: filmes do Woody Allen dobrados e relatos radiofónicos de touradas.
Filipe