Não creio que a poesia exista para ser dita. A maioria dos recitais a que fui eram de um mau gosto constrangedor e parece-me que o verso, a metáfora, o soberbo cuidado com as palavras, tudo isso pede a intimidade da solidão, o silêncio da leitura. Mas este disco contraria a tese, talvez por serem os próprios poetas a cuidar do som dos seus poemas. Al Berto, Mário Cesariny, Franco Alexandre, Herberto Hélder e Luiza Neto Jorge, sobre música de Margarida Araújo, Rodrigo Leão, Gabriel Gomes e Francisco Ribeiro. Comprei-o em 98, pouco depois de sair e, depois, perdi-o durante anos. Há um mês, lá reapareceu nas prateleiras da fnac (Auster diria que era o mesmo disco, o meu). A faixa 12, em que Hélder lê “[Minha Cabeça Estremece]” é o arrebatamento descido ao verbo e à melodia.
Alexandre