Não achas que chegou o momento de ires ao bar? Então agarra nestas folhas e enfia com elas na mala, levanta-te e inicia a travessia do comboio. Eu espero-te lá. Não as tires para fora antes de chegares à carruagem restaurante.
Cá estamos. Estiveste na fila, pediste um café e uma água mineral. Está muita gente no bar. Apesar disso, encontraste lugar num banco, tiraste da mala o jornal que está agora aberto à tua frente, por cima da mesinha de plástico cinzento, e recomeças a leitura. Quem sabe se enquanto atravessavas o comboio tiveste a mesma ideia que eu? Alguém, neste comboio, lê esta história. Lê, e porventura lendo sorri, e se calhar diz de si para si: ora essa, que engraçado, o que é que deu aos tipos do «Le Monde»? De repente, lê que tudo se desenrola no TGV Paris-La Rochelle das 14.45, Sábado, 20 de Julho. Soergue as sobrancelhas, levanta os olhos do jornal, e tem um breve instante – de vertigem seria um exagero – mas, enfim, de desconcerto, relê a frase e diz para consigo: ò diabo, é neste comboio! E, um momento depois: mas então a rapariga de quem se fala, a destinatária, está também ela aqui no comboio! Seja homem ou mulher, coloca-te no seu lugar. Tu não acharias excitante? Não procurarias perceber quem ela é, esta rapariga? Não dispões de qualquer descrição física, que eu tive cuidado com isso, mas dispões de um indício, e de um indício extremamente preciso: sabes que entre Poitiers e Niort, isto é, entre as 16.15 e as 16.45, ela deverá estar no bar. O que farias? Ir ao bar. Eu, de qualquer modo, iria. Leitor, leitora, isto é um convite, não fiquem de lado a fazer crochet, entrem na valsa: peguem no vosso exemplar do «Le Monde» como se fosse uma senha, e compareçam no bar.
Rui