Outra fonte inesgotável de espanto: não só as mulheres estão nuas debaixo da roupa, como todas têm aquela coisa miraculosa entre as pernas, e o mais desconcertante é que a têm o tempo todo, mesmo quando não pensam nela. Durante muito tempo perguntei-me como é que faziam, parecia-me que eu no seu lugar não faria outra coisa senão masturbar-me, ou pelo menos pensar nisso. Uma das coisas de que gostei logo em ti foi a impressão de que pensavas nisso mais do que a maior parte. Um dia disse-te que tinhas a cona escrita na testa, tu hesitaste, não sabias como entender, se como uma parolice colossal ou como um cumprimento, e no fim prevaleceu o elogio. Eu concordo. Quando olho a cara de uma mulher, gosto de conseguir imaginá-la enquanto goza. Em algumas é quase impossível, não se entrevê o mínimo abandono, mas tu, basta ver-te em movimento, a sorrir, a falar de uma coisa qualquer, e adivinha-se logo que gostas de gozar, vem imediatamente a vontade de conhecer-te enquanto gozas, e quando se te conhece, bem, não se fica desiludido. Não sendo exactamente o tom deste texto, mas paciência, concedo-me uma nota sentimental: nunca me deu tanto prazer ver alguém gozar como tu, e quando digo ver, obviamente, não se trata apenas de ver. Imagino-te no momento em que lês estas palavras, o teu sorriso, o teu orgulho; o orgulho de uma mulher bem fodida só tem paralelo no do homem que fode uma mulher bem fodida. Podes afundar os pensamentos nas tuas cuecas, agora. Mas espera: não te precipites. Faz como com o elefante cor-de-rosa. Não penses ainda na minha pila, nem na minha língua, nem nos meus dedos, nem nos teus, pensa na tua cona sozinha entre as tuas pernas. O que te vou pedir é uma coisa terrivelmente difícil, mas a ideia é que penses na tua cona como se não estivesses a pensar nela. As pessoas que fazem muita meditação dizem que o objectivo (e a iluminação chega por acréscimo) é observar a própria respiração sem que por fazê-lo a modifique. Estares como se não estivesses lá. Procura imaginar a tua cona, de dentro, como se estivesse simplesmente ali entre as tuas pernas e tu pensasses noutra coisa qualquer, como se estivesses a trabalhar ou a ler um artigo sobre o alargamento da NATO. Tenta permanecer neutral, mas entretanto examina em pormenor cada sensação. A maneira como o tecido das cuecas comprime os pêlos. Os grandes lábios. Os pequenos lábios. O contacto das paredes uma com a outra. Fecha os olhos.
Então? Molhada? Imagino que um bocadinho. Muito molhada? Admito que o exercício era difícil, mas enfim, ainda que muito molhada não está aberta: sentada num comboio, vestida pelas cuecas, e sem lhe enfiares um dedo, não pode estar aberta. Atenção agora, vamos ver se consegues abrir apenas os lábios a partir de dentro, sem ajuda. Não sei. Não creio. Tens uma excelente musculatura vaginal, mas não é a musculatura vaginal que comanda a abertura dos lábios, em compensação o que podes fazer é abrir e fechar, abrir e fechar, com tanta força quanto puderes, como se eu estivesse aí dentro.
Bem sei, excedi-me, fui mais rápido do que previas, mas andar para trás seria desleal. Portanto, tens direito a pensar na minha pila. Mas sem lhe saltares para cima. Sem pressa. Tenho a certeza que pensas logo em metê-la toda dentro enquanto te tocas, mas não, tens de ter paciência, seguir o meu ritmo que em traços gerais consiste sempre em refrear, retardar, parar. Sou desde miúdo um ejaculador precoce, é uma experiência tremenda, de um tipo se suicidar, e dessa experiência tremenda ficou-me a convicção de que o maior prazer consiste no permanecer no limiar do prazer. É mesmo aí que eu gosto de estar, exactamente: no limiar, e de afastar sempre o limiar, como se afiasse uma faca sempre e sempre mais. Parecia-te algo perturbador, de início, mas agora não. Agora gostas que antes de te lamber te acaricie demoradamente o clítoris, respirando apenas, perto, tão perto, brincando com o calor da respiração, ateando a expectativa do primeiro movimento da língua. Gostas que antes de to enfiar todo lá dentro e foder-te, a glande fique bastante tempo à soleira dos grandes lábios, gostas de me dizer nesse momento, olhando-me nos olhos, que gostas da minha pila dentro da tua cona, gostas de o repetir e é o que farás agora. Aí, no comboio. Repete «quero a tua pila dentro da minha cona», a voz pianíssima, é óbvio, mas repete-o na mesma, não apenas mentalmente, forma os sons com os lábios. Pronuncia estas palavras o mais alto que puderes sem que os vizinhos te ouçam. Procura este limite sonoro e aproxima-te o mais possível sem o ultrapassares. Já alguma vez viste alguém recitar o terço? Faz o mesmo. Sobre o mantra de fundo «quero a tua pila dentro da minha cona» todas as variações são bem vindas, e conto com o facto de deixares correr a fantasia. Vai.
Até Poitiers, que se os meus cálculos estão certos já não deve estar longe.
Rui