Quando se faz sexo pelo telefone, existe um momento sempre delicado, gostoso, mas delicado: aquele em que se passa do diálogo normal ao cerne da questão. Diria que, quase invariavelmente, se chega aí pedindo ao outro que descreva a posição em que se encontra («Mmmm, estou deitado na cama...»), depois a roupa que tem vestida («Só uma camisola...?»), e é nesse momento que alguém pede para que um dedo se insinue numa qualquer parte, por entre a roupa e a pele. Aqui eu hesito. É como no xadrez, ou na análise, nos quais, segundo parece, tudo depende da primeira jogada. A mais clássica abertura seria o seio, a abordar de modo diverso conforme esteja ou não envolto no soutien. De costume, usas soutien. Conheço-os quase todos, pois ofereci-te vários; eis uma coisa que me dá prazer: escolher roupa interior sexy. Acho piada à conversa com a empregada, o descrever-lhe a destinatária. O conúbio consentido entre a troca estritamente profissional e o subentendido sensual cria uma cumplicidade subtil que rapidamente leva à pergunta: «Se fosse para si, qual deles escolheria?»
Poderia pedir-te que acariciasses um seio, que aflorasses o mamilo com a ponta dos dedos através do vestido e do soutien, o mais discretamente possível. Ora aí está uma outra coisa de que gosto, de que gostamos os dois, o olharmos juntos as mulheres e imaginarmos os seus mamilos. As conas também, mas vamos com calma, por agora fiquemo-nos nos mamilos. Como expliquei muitas vezes às empregadas das lojas, o teu caso é especial, no sentido em que os teus mamilos parecem feitos ao contrário, com o bico virado para dentro, despontando, como um animal de uma toca quando estás excitada. Imagino que o estejam a fazer neste preciso momento sem que tenhas necessidade de lhes tocar. Não te toques. Interrompe o movimento que porventura tenhas iniciado, deixa a mão suspensa no ar e limita-te a pensar no teu seio. Ou melhor, a visualizá-lo. Já te expliquei, é uma técnica yoga muito eficaz - ainda que em geral aproveitada para outros objectivos – visualizar uma parte do corpo com a máxima precisão e para ela transferires o pensamento e os sentidos. Peso, calor, textura da pele, textura diferente da aréola, fronteira entre a pele e a aréola, estás por inteiro no teu seio. Na melhor das hipóteses, no momento em que lês estas palavras alguém sentado em frente a ti – mas estará alguém sentado à tua frente? – poderá ver os teus mamilos despontarem sob a dupla camada de tecido tão nítidos como sob uma camisola molhada.
Pára de novo. Agora volta a fechar o jornal. Não penses em nada mais para além do teu seio, e em mim que penso no teu seio, durante um quarto de hora. Fecha os olhos, ou não, como quiseres.
Rui