Com a Daniela, e com as outras todas, era de uma sinceridade brutal – porque a não queria, pelo menos não de início (ou até começar a perdê-la). Não era querê-las que ele queria. Mas, precisamente porque as não conseguia querer, nada tinha a perder. Se quem quer está sempre «por baixo», ele só podia estar, assim o pensava, «por cima». Era, por essa razão, de uma sinceridade redentora, sem concessões. Ele era sincero. Ele mentia. Pensava: a sinceridade é um arbusto como qualquer outro, atrás do qual nos podemos esconder. Aliás, como arbusto, é até dos mais eficazes: de uma opacidade impenetrável, porque aparentemente transparente. A espessura da muralha diz muito sobre o inimigo a pensar no qual foi construída. Que tipo de inimigo requer a espessura de uma brutal sinceridade, era a pergunta que se fazia.
Rui