Nestas noite de insónias próprias da condição paterna, tenho conseguido ler o livro que reúne alguma da colaboração de Alexandre O´Neill na imprensa. A esverdeada luz de presença tem ajudado à tarefa. Ainda há muita prosa para calcorrear. Mas já me sinto cativado. Há coisas de que estava à espera. Um tom literário fora da agenda (tão ausente dos nossos jornais). A capacidade de, a partir de termos e expressões correntes, inventar palavras e frases com brilho. O raro talento em usar (sem ferir) o ponto de exclamação. A vontade de partilhar, sem pretensão e com graça, as suas investigações culturais. Mas, confesso, desconhecia em O’Neill a serena vocação cronística para a clareza e profundidade nos temas humanos. Textos sem piscares de olho e piruetas verbais. Num estilo limpo e incisivo. Como este "O Exílio Interior":
“(...) O exílio interior, como disciplina, pode ser objecto de irrisão por parte daqueles que, em qualquer escritor ou artista, vêem apenas um individualista, um egocêntrico, mas é o comportamento coerente que se oferece a quem, rodeado pela adversidade, teima em preservar o pequeno núcleo que faz, fará com que um dia possamos – nós, os pactuantes – dizer
aquela pessoa”.
Nuno