Nos últimos dias, não faço ideia porquê, tentam, aqui e ali, usar o tema Lance Armstrong como desbloqueador de conversa comigo. "Então e o Armstrong? Grande homem!" Ou se sou eu a puxar o assunto "tour", mas a propósito do feito de José Azevedo, logo contrapõem: "E o Armstrong?"
Vou-vos explicar...
Não gosto muito do homem, ainda que admita não ter motivos muito racionais para isso. Mas enerva-me o fenómeno mediático que é, ser tão monótono como o Schumacher, fazer implantes capilares, mandar um chuto à mulher que tanto elogiara por ajudá-lo a ultrapassar o cancro, assim que esbarrou na Sheryl Crow.
E, depois, há uma coisa fundamental: no desporto (talvez não só no desporto, mas, para o caso, é o que importa), do que eu gosto é dos heróis. E, no caso do ciclismo, o meu herói era o Induraín - quando ele deixou de correr, deixei de ver ciclismo. Porque é que ele era um herói? Porque nunca me esqueci desta etapa, no tour que seria, creio, o da sua quarta vitória: um desconhecido que se destacara logo do pelotão e fizera 200km sozinho, estava a 50m da meta totalmente estoirado, quase incapaz já de andar, quanto mais de pedalar. Induraín que, a pouco e pouco, se fora aproximando dele com toda a tranquilidade, apanhava-o por fim. Se fosse Armstrong, julgo, tê-lo-ia ultrapassado, talvez com um sorriso, talvez até com uma palmadinha nas costas, e seguido para a glória do vencedor e arrecadado o prémio da etapa. Se fosse Azevedo, talvez também preferisse o seu lugar na História nacional e arrancasse para a conquista, mesmo que depois pedisse desculpa por isso ao rapaz esgotado. Mas Induraín não. Induraín aproximou-se do anónimo, gritou-lhe palavras de incentivo, deitou-lhe a mão ao selim, puxou-o naqueles metros finais e, em cima da linha, empurrou-o para a vitória.
Enquanto não me esquecer desta imagem não quero saber do Armstrong para nada. E não voltarei a ver tours nem giros nem voltas.
Do mesmo modo, quando Prost deixou a fórmula 1, nunca mais vi um grande prémio. E quando o Van Basten se lesionou e o Maradona foi expulso do Mundial de 96, também nunca mais liguei pevide ao futebol internacional. Quando o Carlos Lisboa abandonou o basket nacional, Jabar, Magic e Jordan o norte-americano; Carl Lewis os 100m, Rosa Mota a maratona.
No desporto, tenho, enfim, o romantismo que me escapa nas relações afectivas: só amo, verdadeiramente, da primeira vez.
Alexandre