Bourdieu dedicou os seus últimos dias à denúncia da «dominação masculina». Felizmente, existe a técnica da entrevista, que nos permite saber como as coisas realmente se passam. Hoje contaram-me que, já em 1991, num trabalho sobre valores sociais, uma socióloga belga chegou a conclusões surpreendentes (?) sobre os processos de decisão em «contextos familiares». Numa entrevista, a investigadora perguntou a uma «doméstica» quem tomava as decisões lá em casa. A senhora disse que «o marido tomava as decisões mais importantes» e ela «as menos importantes». Se estivéssemos perante um simples questionário, a conversa ficava por ali. Mas a entrevista permite-nos ir mais longe. «Aprofundar». «Explorar». E a entrevistadora, como lhe competia, «aprofundou» e «explorou» - no sentido de perceber que decisões (mais ou menos «importantes») eram essas. A resposta da entrevistada foi, de facto, interessante: «Por exemplo, eu decido a marca do carro que havemos de comprar, o bairro para onde nos vamos mudar, a escola onde quero pôr os meus filhos; ele decide qual a posição que devemos ter sobre a Guerra do Golfo».
Filipe