Em conversa com um amigo, neste final de tarde, cheguei à conclusão de que falhei a vida.
Todos os outros miúdos sonharam ser pilotos-aviadores e astronautas, futebolistas e detectives. Eu não.
Andava ele em obras na sua casa de infância, já nos retoques finais, pintando os muros em torno, e recordei-me de como, em pequeno, a primeira profissão que sonhei fora, precisamente, a de pintor. Dizia-o entre a família e achavam-me graça. "Que giro! Tão pequenino e já quer ser artista..." E eu: "Não, não! Quero ser pintor! Pintor, mesmo - de casas e paredes e assim!"
Depois, projectei, quando crescesse, ser taxista . Não tínhamos carro, pelo que só era transportado nesse maravilhoso invento quando acompanhava a minha mãe, cheia de sacos, regressando a casa, findas as compras do mês. Achava extraordinária a sorte daqueles motoristas, que podiam passar dias inteiros, a vida inteira, a andar de automóvel.
Isto durou-me quase até ao final do ciclo preparatório, fase em que comecei a ter segundos pensamentos sobre se estes seriam bons projectos de vida, sobretudo naquela idade em que tudo é, ainda, possível.
Hoje, faço um balanço e concluo: nunca pintei uma só parede que fosse, nem na casa de amigos. Tenho carta, mas nem um carrito em 12ª mão, pelo que, tirando ocasiões excepcionais, nem conduzo.
Se, do alto dos meus 10 anos, pudesse contemplar-me agora, como futuro de mim próprio, pensaria: "Acabei um falhado!"
Alexandre