Estávamos a meio do jantar e faltou o tabaco. Eu vou – tu vais – fui eu. Saí do restaurante e atravessei a rua, dirigindo-me a um grupo de dois ou três rapazes à conversa em frente a uma lojinha que vende bugigangas e copos de água. «Onde é que posso comprar cigarros aqui ao pé?» «Na porta ao lado.» A porta ao lado, um outro restaurante, não tinha: só tinham charutos e vinhos tintos italianos. Voltei a ter com o grupo que, entretanto, me havia seguido com o olhar. Sentia-me, e parecia, o mais cámone possível. A trilogia que não engana: shorts, chinelo e after-sun. Um estereótipo ambulatório. Se haveria algum outro sítio ali ao pé onde se pudessem comprar cigarros. Não. Não, àquela hora. Coço a cabeça. «Dá-me o dinheiro que vou lá eu comprar», diz um deles, sentado numa motorizada. Fico embatucado. Pensei: dou-lhe o dinheiro e o tipo nunca mais aqui aparece. Nem sequer era o ser muito dinheiro, era o não ser comido por parvo. Não queria ser mal-educado, mas fui: «E voltas com o tabaco?» Risos dele. «Malditos estereótipos», pensei. Lembrei-me de dizer, já a ficar engelhado com o ridículo: «é que só tenho notas grandes, deixa estar, eu cá me arranjo...» «Salta para a motorizada e vamos lá os dois comprar o tabaco» disse ele, a ler fundo nas minhas reticências. E lá fomos, à conversa. É longe? Não, era ali ao pé. Rui Costa? Conhecia; grande fã. Somos do mesmo bairro em Lisboa, disse orgulhoso. Risos. O campeonato europeu? Grande merda: tinha perdido dinheiro numa aposta da final. «Big money»: cinquenta dólares, mais de um mês de salário como empregado de mesa. Chegámos ao sítio, comprei dois maços e regressámos. Parou em frente ao restaurante. «Obrigado» e apresentações de parte a parte, com um sorriso aberto. Um aperto de mão. Bali.
Rui