A morte de Henri Cartier-Bresson fez-me recordar a penumbra em que parecem recair os nomes de todos os grandes caçadores e, não poucas vezes, inventores de imagens, sejam eles fotógrafos ou operadores de câmara.
Até parece estranho que, cumprido o século da imagem, a praça pública não tenha retido, pelo nome próprio, quase nenhum destes indivíduos que fizeram e fazem de nós, dia após dia, a geração que mais mundo viu. Porque não estão eles ainda no mesmo panteão dos escritores e mesmo dos jornalistas do texto, dos pintores ou, pelo menos, dos pivots de noticiários?
Nós aprendemos a reter os rostos e, só depois, a colocar-lhe um nome em legenda. E, ironicamente, estes homens e mulheres vivem ocultando a sua face, em nome de nos providenciar a dos outros. Nenhum de nós esteve no Vietname ou em Pequim, no Iraque ou na Somália. Não arrancámos um pedaço ao Muro de Berlim ou avistámos, ao longe, o cogumelo gigante de Hiroshima. Mas aprendemos todas estes acontecimentos, interligámo-los e compreendemos o mundo em que vivemos graças a eles. Na frente de batalha, ao lado dos feridos, rente aos disparos, nas cidades sitiadas onde nehum estrangeiro seria bem-vindo.
Da próxima vez que comprar a National Geographic ou visitar a World Press Photo, em que levar consigo um jornal pela sua primeira página magnética ou saltar da poltrona com o que está a ver no seu televisor, mergulhe mais fundo e não se fique pelo que lhe é mostrado. Pense no que foi preciso para que você pudesse estar, tranquila e confortavelmente, em casa, a contemplar a beleza e o horror do tempo em que vive.
Alexandre