Ofereceram-me Sozinho em Casa. Não o filme, mas o livro de Pedro Rolo Duarte (Oficina do Livro). Todas as sextas-feiras, do alto das suas crónicas no Dna, com aquela trunfa de profundos pensamentos, Rolo Duarte consegue dar à palavra aborrecimento uma significação mais vasta. Ontem, domingo, antes de ir dar milho aos pombos, decidi finalmente folhear o livro do irmão da inefável Camila Coelho. “Um diário da solidão” sobre “aquilo de que é feita a vida de todos nós”, assim nos é explicado, no início, o conteúdo da obra que temos nas mãos. Mordido de curiosidade, fui ver como era a vida do director do Dna. Seria realmente como a de todos nós?
Vejamos, na primeira pessoa, como PRD ocupa o seu tempo. Eu bebo gin tónico com duas ou três gotas de sumo de limão (antes de sair de casa certifico-me sempre se o gin não esgotou e se os citrinos estão no frigorífico). Eu vou comer pizzas à Piazza di Mare e ao Casanova. Sei fazer uma boa feijoada e até já gosto de ovos escalfados. “Tenho para comigo” que a piscina do Estoril Sol é a melhor de todas, que as camas do Meridien do Porto são insuperáveis e quanto ao Altis falem-me do bife tártaro. “Tenho para comigo” que os melhores restaurantes de Lisboa são o Travessa, o Pap’Açorda, o XL, o Bica do Sapato. Mas “tenho para mim” que peixinho com sal é no “Petit” de Algés. Bebo whisky irlandês com o Miguel Esteves Cardoso e às vezes tenho depressões, nada que um Jameson, seco, em copo alto, não resolva. Vou à FNAC comprar imensos livros, revistas e cd’s. Gosto de ir ao Pão de Açúcar das Amoreiras. “Tenho para mim” que a Costa Alentejana já foi melhor. A minha casa em Odemira é o máximo. Eu era um bocado piroso quando era pequeno mas continuo a gostar de Suzanne Vega, do Rui Veloso, do Vergílio Ferreira e blá blá blá, blá blá blá...
Ler Sozinho em Casa é ficar a saber até à exaustão o que Rolo Duarte gosta e não gosta, as horas a que acorda, os jornais que compra, os discos que ouve, a comida que come, etc., com algumas opiniões pomposas e uns quantos espirros poéticos pelo meio. O jornalista já tem 40 anos e ainda está a viver a crise dos 30. Como dizia a minha avó, é como o ovo, não tem ponta por onde se lhe pegue. Em suma: mais um livro para cair no eterno esquecimento.
João Pedro