Uma das mais espantosas habilidades de Portugal e dos portugueses é a forma como conseguem afastar-se de tudo aquilo quanto é importante para se perder no acessório, mantendo a aparência de total seriedade e solenidade que os assuntos iniciais mereciam.
Quando o Processo Casa Pia começou, o que estava em causa era aquilo que deveria estar em causa, isto é: que pudesse ou não existir uma rede de abusadores de crianças e que, a existir, fosse por isso levada a julgamento e consequente condenação. Poucos dias depois, já não era isso que importava, outrossim, quem lá estava metido. Quem era pedófilo? Um anónimo ou um famoso? Um político ou um futebolista? Passado mais algum tempo, também esse ângulo perdia o seu interesse: as estrelas passavam a ser os advogados, o juiz Rui Teixeira, o procurador Souto Moura, o funcionamento da justiça portuguesa em geral. Há coisa de 15 dias, o que importa, mas o que importa mesmo, o que está em causa, é Octávio Lopes e Inês Serra... Lopes, o Correio da Manhã, O Independente e a Focus, a ética dos jornalistas, a confianças das fontes, as assessoras de imprensa.
Alguém se recorda de como começou esta história? Haverá alguma vítima a sentir-se justiçada pela guerra verbal actual? Do momento inicial a este, poderá uma criança abusada repetidamente por um pervertido, famoso ou anónimo, sentir que valeu a pena testemunhar e queixar-se, ao ver a Inês Serra Lopes ser proibida de revelar mais conversas gravadas à socapa por Octávio Lopes, por entre a negligência do procurador-geral da república?
In your dreams...
Alexandre