Como convém a todos os últimos dias, está aquele tempo intermitente, fechado, triste. Porque, assim, é mais fácil partir. A pena, a perda, a saudade, tudo quanto os nossos sentidos retenham, pode ser perdido tranquilamente. Quem se mataria num dia glorioso?
As malas estão feitas. Os livros lidos colocados na estante. O bilhete de avião em cima de secretária, seguro pela chave da casa de lá e por um par de óculos suficientemente escuros para que, amanhã, sinta que me consigo esconder atrás deles.
E ninguém dará por mim.
Assim manda o princípio dos adeus. Que saiamos pela penumbra, num instante qualquer de um dia banal, escondendo emoções.
Nenhuma promessa.
O mundo anda demasiado rápido para que corramos os riscos implicados em olhar para trás durante a sua curva.
Alexandre
* Bem sei que se deveria dizer "dos adeuses", mas, para além de soar horrivelmente (pior, pior, só mesmo as "gravidezes"), dou-me ao luxo de, no meu monoteísmo, conservar a palavra como invariável em género e número. Porque "adeus" significa o que parece: a-Deus. Os hindus, se quiserem, que variem o termo.