Chego ao aeroporto às 6h30. O bilhete garantia-me que o voo seria às 8h00. Mas, hoje, a Portela parece o Purgatório e milhares de almas, carregando nas malas os haveres que pretendem levar para a vida eterna, amontoam-se em cada um dos milhares de metros quadrados do terminal. Há urros, encontrões, choros, gritos, crianças a voar, lado a lado com copos McD0nald's, velhinhos a fazer corridas com os carrinhos da bagagem, hospedeiros de terra a ponderar o suicídio.
Eu estou de directa e rabugento como nunca.
Dizem-me que o avião não sairá antes das 10h30.
Penso no genocídio.
Pago 1€ por um café, 1€70 por uma água e 3€65 por um croissant misto minúsculo. Agradeço à senhora da cafetaria em inglês, porque, sem que me tenha dado conta, devo ter entrado, com certeza, no aeroporto de Londres.
Penso outra vez, seriamente, no genocídio.
Põem-me em classe executiva. Mas não é assim que compram os meus instintos assassinos.
O meu avião não partiria antes das 11h40.
Sou assaltado por um carinho curioso por todos os psicopatas e sociopatas do mundo.
Está calor. Muito calor.
Lembro-me de Camus, do seu estrangeiro e dos motivos que lhe legitimavam pôr fim à vida do primeiro gajo que lhe passasse ao lado.
Penso se demorará muito tempo fazer 1500km de barco.
É um final em grande para um ano interminável.
Culpo o Sampaio, o Santana, o Afonso Henriques, o José Eduardo Moniz, o Papa, as embalagens de cereais e as campanhas publicitárias dos telemóveis.
Estou pronto para um corpo-a-corpo com aquela gente toda.
Entro no avião.
Cerro os punhos.
... Adormeço.
Assim não dá! Que espécie de vilão sou eu?
Não me lembro de um único assassino em série fechar a pestana. Buuááá!!!
Alexandre