Uma das coisas de que sinto mais falta é das revistas que a empregada da esplanada da Alexandre Herculano nos emprestava. Este fim de semana, deixei-me de merdas e comprei a Caras e a VIP. A Caras é uma revista que aponta para o que em sociologia se chama «pessoas em situação contraditória de classe». Começa com uma entrevista a Clara Ferreira Alves, passando logo de seguida para Maria João Abreu e José Raposo, um popular casal da revista à portuguesa. Parece que a actriz Maria João gosta muito do filho, mas confessa que «adorava ter uma menina, para vestir de cor-de-rosa e usar muitos lacinhos». Só que, para sorte da futura «menina», as coisas não andam muito bem lá em casa. José Raposo queixou-se mesmo à Caras: «Eu ainda gostava de a ter, mas não há daquele lado uma colaboração muito grande».
Depois de vermos Jean-Paul Sartre fotografado por Henri Cartier-Bresson, este número da famosa revista termina em beleza com uma entrevista à jovem Olga Diegues. Apesar da idade, a Olga revela já um currículo invejável. Para além dos inevitáveis cursos de «valorização pessoal», Olga fez «jornalismo de entretenimento» (antigamente, uma contradição de termos) e passou «pelo workshop do Marcantónio Del Carlo» (certamente um senhor muito conhecido). Foi certamente este workshop que a levou para a telenovela Morangos com Açucar, mais precisamente para o papel de Helga, que a própria (Olga) descreve como «uma tontinha esperta». No entanto, o que a Olga «gostava mesmo era de conseguir conciliar o trabalho de repórter e o trabalho de actriz». Seria uma actriz-repórter, que é como quem diz «uma tontinha esperta».
Filipe