Ruy Belo (ou Ruy Beli, numa das traduções livres do Filipe para italiano) é um poeta muito do agrado de alguns esplanadores deste blog. Eu, por mim, não consigo recordar o livro de "Introdução ao Estudo do Direito" sem vislumbrar lá dentro o primeiro volume da obra poética de Ruy Belo (edição da Presença). Ontem, antes de dormir, folheei “Na Senda da Poesia” e fiquei deliciado com algumas sequências das entrevistas ao autor de "Boca Bilingue".
Por exemplo:
"(...) - Acha que a poesia não pode, ou melhor, não deve ser ambígua, difícil, mas sim clara, fácil?
- A poesia é por natureza difícil. Como o futebol. Desculpe a alusão. Mas não é descabida. Porque é que eu leio muitos jornais desportivos? Porque os nossos maiores jornalistas são Alfredo Farinha, Carlos Pinhão, Aurélio Márcio. (...)
(...) - O que representa para si a poesia?
- Lanço uma nova definição (sempre gostei de definições, anos de Direito Canónico ou Direito tout court): a poesia é a preguiça da prosa. Há dias, na praia, o Afonso de Barros disse-me que o que eu era, era preguiçoso. É verdade. Barbitúricos nem sequer são desculpa”. (...)"
É sabido: não há verbo mais preguiçoso do que esplanar. Não o dissemos no início - na verdade, temos mais um Rui para a conversa. Continua ali a um canto, escrevendo ou cumprindo esse transcendente vício de folhear as páginas do jornal “A Bola”. Ouço o seu pedido ao rapaz que passa: “Era um Vat 69, se faz favor”.
Nuno