Conheci o Arão na cidade de Maputo vai fazer, julgo, cinco anos. O Arão Arnaldo Macie era na altura ajudante de motorista da camioneta que nos transportava e jogava ainda como avançado na equipa dos juniores do Costa do Sol. O Arão, confessou-me, gostaria de poder mostrar lá no bairro - a Matola - que tinha um amigo branco. No dia anterior à minha partida, pediu-me uma recordação qualquer “para fazer lembrança”. Mas não foi isso que mais me impressionou no seu comportamento. Tenho, não sei bem porquê, recordado este episódio - talvez seja da sua vaga parecença física com o reaparecido Mantorras. Um dia, o Arão trouxe-me uma foto da equipa dos séniores do Costa do Sol e apontou, triunfante, para um jogador. “Sou eu”, disse-me, suspendendo a brancura extrema do sorriso. Aproximei os olhos da foto para perceber se a minha impressão inicial tinha fundamento. E confirmei-o. Aquele que estava ali não era o Arão. Não era e não podia sê-lo. Era outro – e não tão parecido com ele como o próprio Arão desejaria. Zangado, desviei a foto e sugeri que me sentia triste com essa tentativa de me enganar. Mesmo assim, o Arão, o Arão Arnaldo Macie quis convencer-me do contrário. Pensou talvez que eu pudesse ajudá-lo na transferência para o Estrela da Amadora, clube por onde gostaria de alinhar. Ou - o mais provável - desejou que me sentisse orgulhoso pela sua honrosa chamada à equipa principal. Afinal éramos amigos - novíssimos cúmplices de comentários e risos. Se calhar, deveria ter deixado passar o episódio, em nome da sua pueril fantasia. E, hoje, ao olhar para esta outra foto, não resisto a perguntar: terá o Arão conseguido chegar a titular sénior do Costa do Sol?
Nuno