Por mim, tanto melhor. Gosto pouco do marulhar das plateias e persigo o sonho de ter uma projecção só para mim. Mas estas contradições chateiam.
Adiante. A semana passada voltei à sala grande para ver uma dessas pequenas pérolas que podem muito bem passar despercebidas a uma quantidade de gente e, como o filme deve estar a sair de cartaz dentro de dois dias, pareceu-me bem alertar agora, enquanto ainda posso ser útil a alguém.
Chama-se "A Minha Vida Sem Mim", é realizado por Isabel Coixet e produzido pela El Deseo, de Pedro Almodóvar. Não tem grandes vedetas, mas tem esse espantoso Mark Ruffalo, secundário num elenco que não o envergonha. E tem também Maria de Medeiros, numa cabeleireira de fora deste mundo, fanática adepta de Milli Vanilli (se estiver mal escrito, até fico orgulhoso...).
No essencial, é a história de uma jovem de 23 anos que, ao descobrir ter apenas mais 2 a 3 meses de vida, projecta e persegue o que tem a fazer antes da morte. Da sua lista, constam, por um lado, dormir com outros homens, dado que não conheceu outro que não o marido e, por outro, por amar esse marido e as filhas, encontrar-lhe uma boa mulher e uma boa mãe. É território perigoso, portanto, passível de descambar em choradeira ou ridículo, mas segura-se muitíssimo bem. Com sentido de humor, inteligência e, sobretudo, muita delicadeza. Tudo aglutinado no modo frágil e belo como a protagonista canta o eterno "God Only Knows".
A generalidade da crítica desancou-o. Mas também foi grande parte da crítica que berrou cobras e lagartos pelo encerramento do S. Jorge. E também foi a crítica aquela franja que Dustin Hoffman tão bem tratou numa magnífica entrevista a Júlio Isidro (Sim, ao Júlio Isidro. Porquê?), mais ou menos assim: "Se a minha filha chegasse a casa e dissesse: 'Pai, sou lésbica.' Eu dizia: 'Tudo bem. Vamos conversar sobre isso.' Se o meu filho se abeirasse de mim e dissesse: 'Pai, sou homossexual e quero ir viver com o meu namorado.' Eu responderia: 'Ok. Se é isso que tu desejas...' Agora, se algum dos meus filhos chegasse a casa e me dissesse: 'Pai, eu quero ser crítico.' Aí é que eu responderia: 'Nããããooooo!!!! Por acaso, perdeste a cabeça, foi? Vai já pr'ó teu quarto!!"
Alexandre