Amigo puxa amigo, há uns meses largos, juntámo-nos todos e decidimos alugar uma sala de escritório. Tivemos sorte, pois ficámos bem no centro de Lisboa. A nossa ideia era trabalhar fora de casa, evitando a sensação de acordar e estar de imediato, ainda de pijama vestido e barba por fazer, no escritório. Assim, podíamos sair de manhã (risos abafados) e ir para o escritório como as pessoas normais. O preço, a dividir por todos, era irrisório. A sanidade a troco de uns trocos, uma verdadeira pechincha. Um escritório tem inúmeras vantagens: fazer jantares de Natal, esfregar cotovelos no elevador (era estreito), lanchar, tomar demasiados cafés, ter mais uma chave para além da de casa e do carro. Poupa-se no prozac e no passe. Ora, ora: será escusado dizer que a conversa tomou conta do escritório. O trabalho ressentiu-se (repetidos esgares). De tal maneira que, quando era de facto preciso trabalhar, houve quem optasse sabiamente por ficar em casa. Também houve quem nunca chegasse a ter chave. Alexandre Herculano, 17: três ou quatro cafés, uma livraria de nome bucólico em alemão, um restaurante africano e outro brasileiro, uma charcutaria, um notário e parquímetros avariados. É bem sabido que, para estar na palheta, nada melhor que uma esplanada ao pé de um notário. O escritório, entretanto, já não existe. É que tínhamos mesmo de trabalhar. Por isso, viemos
esplanar para outro lado. Por entre meias de leite, jesuítas, um ou outro Wittgenstein, imperiais e tremoços: a vida vista da esplanada.
- Então jovens, o que é que vai ser hoje?
Rui Branco: Era um chá verde e um pão da casa misto com pouca manteiga.
- Era ou é?
João Pedro George: Eu queria um palmier simples e um cafezinho.
Nuno Costa Santos: Meia torrada e um daqueles sumos vital a, b, c não sei quê.
Filipe Nunes: Para mim, uma coca-cola e um pãozinho da casa...Com queijo!!
Alexandre Borges: Olhe, por favor! Era uma imperial… Desculpem o atraso…