Para fazer justiça ao nome e carácter deste blog, concordámos, aqui e ali, fazer a crítica às esplanadas por onde passamos. Começo, hoje, essa rubrica, não por um sentido de dever, mas pelo puro impulso de descrever o gozo de um desses lugares pacíficos: a esplanada da Cinemateca.
Estava eu sentadinho, tranquilamente, a ler os jornais do dia num café da João XXI, quando irrompeu uma horda de adolescentes que me parecia anunciar o fim do mundo: pediam, em média, um café e três copos de água por cada dez cabeças, gritavam o refrão de um tema dos Black Eye Peas que passava no televisor do sítio, discutiam roupas, contavam os trocos para o combustível da scooter, gozavam uma suposta amiga que lhes ligara dizendo que não apareceria, porque tinha sido convidada para fazer um desfile.
Resisti até ao limite, mas tive de abandonar o lugar antes que acontecesse o genocídio. E fui, rua fora, tentando perceber por que carga de água ainda guardo boas recordações da minha própria adolescência.
E lembrei-me da Cinemateca, do café, da esplanada: sossegada, ainda meio-desconhecida, fresquinha. E flutuei para lá, debaixo do calor de Lisboa, muito snob, armado em adulto e culto.
Perfeito. Só lá estão mais duas pessoas. A Judy Garland canta "Somewhere Over The Rainbow". Uma tela é instalada, em delicioso silêncio, ao ar livre. A tarde não está arruinada.
É tão bom ser grande!
Alexandre