Tocam à porta pelas cinco e meia da tarde. O Filipe levanta-se; vai lá ele desta vez. Passado um bom bocado, está de volta com um ar perplexo e sério: «Estão ali umas espanholas a perguntar pelo Casillas...não percebo o que é que elas querem...»
«Pelo Casillas?» «O do Real Madrid?» «Sim, pá.»
«E são giras», pergunto. Ele: «Sim, sim.»
Levanto-me e vamos os dois pelo corredor em rigoroso silêncio. Estavam duas espanholas giras à porta do escritório a perguntar pelo Casillas. A coisa prometia.
Abro a porta e estão de facto duas espanholas, na verdade bem giras, morenas e sorridentes, na expectativa.
«Posso ajudar en algo?»
Queriam saber se era naquele «piso» que se «alquila» um «despacho». Abanei a cabeça, não percebia. Pareceu-me ouvir o Filipe atrás de mim a pensar «eu bem te dizia». Olhava embaraçado: o Casillas não era, mas que raio era? E torturava-me: «como é que se dirá lanchar em espanhol?» Silêncio demorado.
Elas entretanto entreolhavam-se, cada vez mais divertidas.
«Se impuerta de repétir?», insisto.
«Perdona, se alquila aqui un despacho?», diz uma. A outra já só se ria.
Fez-se luz. «Ah...alquila...sim». Sem qualquer noção do adequado à situação, respondi a inútil verdade: «É no andar de baixo, de bajo». Fecho a porta e desatámo-nos a rir.
Rui