Sendo a necrologia uma das paixões preferidas da blogosfera e não sabendo eu, ainda, como lhe escapar, este Julho de 2004 parece decidido a não nos dar descanso e, pior que isso, a pedir, incessantemente, mais praças para as estátuas que aí vem.
Nada mais saberei acrescentar ao que se disse já sobre Sophia de Mello Breyner e Carlos Paredes. Gosto apenas de recordar que a última prenda que me deram, sem nenhuma razão especial, foram as ilhas da primeira, um mês antes da sua morte, talvez nem tanto. E que uma antologia do segundo tocara ainda a manhã de ontem no meu quarto, com o fim inglório de me despertar.
E não gosto de perceber que, num piscar de olhos cósmico, nos despedimos, talvez, dos dois maiores artistas portugueses do nosso tempo, com quem, além da arte, aprendemos, pelo menos, duas coisas fundamentais sobre a vida: com Sophia, a beleza; com Paredes, a humildade.
E congratulo-me, no entanto, com saber que, um dia, passearei os meus filhos pela mão, descendo a Avenida de Sophia, até nos sentarmos à sombra, na Praça Carlos Paredes. E que, então, poderei explicar-lhes os seus nomes e as suas obras e dizer-lhes que os vi viver, escrever e compor. Poderei talvez, ainda, sugerir a quem de direito uma rua sem tracejados, riscos contínuos ou passadeiras, mas poemas brancos inscritos no asfalto e uma praça sem pedestal nem estátua, mas perpassada, dia e noite, por música.
Alexandre