Na rua da casa da minha avó há uma mulher que, todos os dias, vai para a janela gritar. E todos os dias a mulher grita com uma companhia: uma bandeira de Portugal. Há anos que é assim. Todos os fins de tarde (deve lá estar agora), a mulher grita um discurso demente e desconexo ao lado de uma exuberante bandeira nacional. Em tempos, julgo ter ouvido alguém do bairro falar sobre os motivos dessa raiva: a morte do marido e a toxicodependência do filho. Tenho pensado nessa mulher por estes dias. Como se terá sentido quando viu bandeiras iguais à sua crescerem no prédio em frente? Terá pensado que finalmente conseguira abrir a comunicação com o mundo que insulta diariamente? Não sei. Sei apenas que me vou lembrar outra vez dela quando for a altura de recolher a nacionalidade.
Nuno