Pouco importa que, no original mozartiano, não constem os mesmos intervenientes que surgem na suprimida encenação de agora, ou que ela já tenha sido encenada em 2003. Do que se trata é da crise do liberalismo, tal como foi aqui discutido no Verão: não apenas, nem sobretudo, como doutrina política ou económica, não estritamente como conjunto de instituições sociais específicas, mas como cultura progressista e emancipatória da sociedade civil, livre de interferência de outros poderes. Depois de décadas de cedências, transformando a luta activa pela tolerância num tolerantismo informe, sempre em nome do «respeito» que falta a quem faz ameaças (católicos, muçulmanos, hindus, etc.), a Europa liberal da qual só marginal e deficientemente fazemos parte encolhe-se agora perante ameaças
anónimas. Não é tão distante de nós como pode parecer, agora que a Igreja oficialmente faz a apologia dos Direitos Humanos, a despropósito, enquanto apela aos leigos para fazerem o resto do trabalho, como já aqui se referiu (no post «A seguir», de 30 de Agosto)...
Estranho é ver
quem gosta de gritar pelo liberalismo, e quem apoiou a conversão do canal 2 à «sociedade civil», indignar-se com os documentários cretinizantes que este agora emite. A sociedade civil só pode emitir se emitir as opiniões de que gostamos? Rico liberalismo fundamentalista!
CL