É curioso como o alegado aviso de «fonte» da PJ a Pinto da Costa sobre as desventuras do Apito mereceu tão poucas notícias (até uma multa ao autocarro do Sporting em Moscovo teve mais destaque). Também, se desse para mais, o sempre atento Público (órgão oficial do Pintismo) descobria logo mais um caso nessa outra grande instituição que é o Glorioso. Mas, tal como está, prefere «analisar» derrota do Porto em Londres culpando Adriaanse… Entre tantos outros casos, desde os treinadores que eram maus em Lisboa mas bons no Porto (Ivic, Robson) até aos argumentos imbatíveis contra Scolari («Baía é Baía e está tudo dito»), ocorre-me uma entrevista que o Público foi fazer a Espanha a um árbitro que, há anos, não marcou penalty a favor do Porto nuns mergulhos nas Antas em jogos europeus: «V. marca poucos penalties também em Espanha»; «acha poucos?»; «Não sei, não vi os jogos»; «Então…». E depois ainda falam mal dessa fonte de entretenimento que são os diários desportivos, pelos vistos foi preciso que o Record o admitisse para os leitores perceberem que qualquer semelhança com jornalismo é pura coincidência. Cada vez gosto mais de ser do Sporting, apesar de a equipa passar anos sem ganhar nada. CL
«Assim, para navegarmos para o futuro – no limiar em que nos achamos, defronte ao mar alto −, teremos de nos entregar à tarefa que o sonho é. Demasiado ricas em hermenêuticas redutoras, as épocas modernas esqueceram o método que facilita o acesso e o recurso à fantasia. Do sonho, as psicologias conservaram o meio de libertar as almas dos cuidados que as atulham – mas carregando-as do peso existencial de um passado que se resume em infâncias irremediáveis e em lutos indefinidos. No que toca ao devaneio (segundo a diferença clássica entre rêve e rêverie, a partir da definição de uma vigília estritamente oposta ao sono), as instituições sociais interessam-se apenas pela sua instabilidade e irresolução, que exploram, manipulando-as. O subconsciente, que é o estrato próprio do devaneio, está exposto à sedução dos esterótipos e a uma homogeneização das aspirações de que a publicidade, por exemplo, é um instrumento eficaz.» (Fernando Gil, Acentos, p. 327). Não concordo com tudo, mas é bom um repto aos blogs sobre psicologia. E para todos os outros também. CL
Pouco importa que, no original mozartiano, não constem os mesmos intervenientes que surgem na suprimida encenação de agora, ou que ela já tenha sido encenada em 2003. Do que se trata é da crise do liberalismo, tal como foi aqui discutido no Verão: não apenas, nem sobretudo, como doutrina política ou económica, não estritamente como conjunto de instituições sociais específicas, mas como cultura progressista e emancipatória da sociedade civil, livre de interferência de outros poderes. Depois de décadas de cedências, transformando a luta activa pela tolerância num tolerantismo informe, sempre em nome do «respeito» que falta a quem faz ameaças (católicos, muçulmanos, hindus, etc.), a Europa liberal da qual só marginal e deficientemente fazemos parte encolhe-se agora perante ameaças anónimas. Não é tão distante de nós como pode parecer, agora que a Igreja oficialmente faz a apologia dos Direitos Humanos, a despropósito, enquanto apela aos leigos para fazerem o resto do trabalho, como já aqui se referiu (no post «A seguir», de 30 de Agosto)... Estranho é ver quem gosta de gritar pelo liberalismo, e quem apoiou a conversão do canal 2 à «sociedade civil», indignar-se com os documentários cretinizantes que este agora emite. A sociedade civil só pode emitir se emitir as opiniões de que gostamos? Rico liberalismo fundamentalista! CL
«O desejo de saber tende a ser submergido por uma avalancha de informações de que os indivíduos se arriscam a ser simples retransmissores, num sistema sempre mais vasto de comunicação neutralizada (qual será o futuro da Internet que poderá ir contra esta tendência? Perfila-se já no horizonte a ideologia de um dandismo electrónico… mas também o dandismo é dado a poucos).» (Fernando Gil, Acentos, p. 329) Antes de nova indignação geral por causa do cancelamento de uma ópera de Mozart em Berlim, devido a ameaças anónimas de represálias, convém sublinhar que esta pressão não foi feita em nome de Estados ou de organizações reconhecidas, pelo que não é da mesma ordem de gravidade que os cartoons ou a celeuma em torno do discurso de B16. Nem por isso é mais aceitável, claro, e, quer se aceite a decisão da Ópera quer não, é ocasião para observar que a moderação (religiosa em geral, não apenas islâmica) consiste em mais do que não fazer ameaças, requer que não se seja conivente, mesmo que apenas por inacção, com quem as faz. CL
Segundo se lê aqui, e por sua vez baseando-se no The Independent, parece que até ao fim do ano a situação no Darfur permanecerá sem novo agravamento. Do mal o menos. E concordo, é de facto notável tão poucas notícias sobre o caso, quando situações muito menos graves são tão mais comentadas, pense-se no caso Israel-Líbano. CL PS - Link refeito, graças a shyzsogud (neighbour).
Na última Sexta, uma das peças que acompanharam a conversa de Alberto Pimenta com Paula Moura Pinheiro foi sobre hip hop. De acordo com a peça, corroborada por «especialista em hip hop» (e porque não?!), este começou por ser uma arma de contestação da cultura negra ao racismo e, depois, passou a exprimir o sexismo da cultura americana. A falácia é óbvia mas vale a pena prestar-lhe atenção. A mudança do sujeito do hip hop, dos negros para a sociedade americana, esconde o óbvio: o hip hop permanece ligado à cultura negra e o sexismo é dela (e também lá está desde os primórdios). Pouco importa que a mulher seja mais livre na sociedade americana do que em qualquer outra, e que o sexismo nela exista como em todas (quem gostar de relíquias pode procurar nos alfarrabistas America the beautiful, de Fidelino de Figueiredo). O que importa é desviar o olhar do facto de ser entre a minoria negra que esse sexismo é mais gritante e primário, o que já originou, aliás, tensões explícitas entre os conservadores (sobretudo religiosos) dessas comunidades e os rappers. Devemos concluir que as «bitches» de 50 cent são obrigadas a bambolear-se nos clips ou que, coitadinhas, Lil’Kim e as já velhotas Salt’n’Pepa não sabem o que dizem… A boa sociedade assume o fardo de as julgar inconscientes, para melhor salvaguardar a culpa do homem (branco). Pena é que seja essa cultura estreita e boçal a emblemática, muito mais que (por exemplo) qualquer daisy age de uns De la soul – e também estes já fizeram clips no «car wash», afinal. Mas note-se: emblemática da cultura do gueto, não da cultura americana. Tudo isto levou a conversa do programa para longe, sem necessidade. Qualquer homem com o mínimo de idade não tem como não reparar no prazer que a mais comum das mulheres tem em, mais do que se tornar atraente aos olhos dos homens, se mostrar indubitavelmente mais atraente para eles do que a mulher do lado. O grau de mesquinhez e venalidade que atingem no processo é mesmo tão surpreendente que só pode resultar de uma imaginação muito bem trabalhada nesse sentido. Habituadas a viver em sociedades de liberdades individuais, essencialmente não sexistas, as «nossas» mulheres agem como se essa permanente estimulação libidinal fosse natural e neutra. Mas não é, nunca foi, e inevitavelmente lembram-se disso quando se encontram, caricaturadas, em clips. «Aquelas» fazem mais do que mostrar as glândulas mamárias no decote, soltam-nas. Em qualquer caso não será assim por muito mais tempo, a pornografia entra já nos hábitos femininos mainstream – como na Sexta bem se viu num outro apontamento do programa, sobre esse símbolo de emancipação da mulher branca que foi (até se arrepender e converter) Linda Lovelace. CL
A notícia da morte de Bin Laden, supostamente causada por febre tifóide, pode ser falsa, mas tem algo mais que se lhe diga do que o tom de justiça poética de uma morte tão desejada se dever a uma doença tão reles. A morte, hoje por febre, tal como, ontem, por insuficiência renal, surge destituída de conotações políticas: assim, não teria sido morto «por nós». Teria sido algo «natural», insusceptível portanto de fazer desabar sobre o nosso mundo mais vinganças imprevisíveis e, por isso, incontroláveis. Esta vontade de neutralizar o carácter definitivo da morte, de o tornar asséptico de modo a o tornar inócuo surge na morte de Bin Laden na sua forma mais literal, mas nem por isso é a mais interessante. As teorias da conspiração sobre o 11 de Setembro são, a este respeito, o mais relevante do ponto de vista cultural. A «má fé» de que falavam Fernando Gil e Paulo Tunhas em Impassesderrama-se aí com uma inconsciência sublime: a vontade de reduzir a barbaridade daquelas mortes a uma «teoria», ainda que conspirativa, a vontade de evitar o estrangeiro radical e transferir a responsabilidade por aquilo para o nosso lado (a conspiração interna, a inacção do governo, até a «culpa histórica»), a vontade de dar um sentido mundano e familiar (o dinheiro ou o petróleo) àquilo que é da ordem do sem sentido (logo, inegociável), tudo isso releva de uma vontade de salvaguarda do indivíduo habituado a ser indiferente à História face à impossibilidade de viver com a realidade que se abateu sobre ele. Com todas as suas incongruências, as teorias da conspiração são ainda assim, porventura assim mesmo, de uma lógica quase sem falhas, uma lógica de autodefesa de um psiquismo primário, que prefere como causa do mal absoluto a vulgaridade do seu mundo à estranheza do desconhecido. Claro que os amantes de boas, elaboradas, teorias da conspiração só podem depreciar as «teorias alternativas», elas são de facto incrivelmente toscas. Sucede que elas não são tanto fenómenos da razão como da vontade, ilustram bem como a vontade é subterrânea à razão e a submete para melhor permitir a quem assim se auto-ilude continuar a viver como habitualmente no mundo moderno a que não se vai deixar, em qualquer caso, de pertencer. O anti-americanismo militante (face real do anti-bushismo) é tão só um sintoma, sem comparação com o anti-semitismo de outros tempos. Insultar de estúpidos ou falhos de carácter os adeptos de tais teorias é simplesmente não perceber a função psicoterapêutica que têm essas «alterverdades» (julgo ter acabado de inventar este neologismo, mas provavelmente estou enganado). Isto mesmo permite também perceber o motivo de a ameaça do fundamentalismo terrorista islâmico às nossas sociedades ser objecto de «forclusão», ao contrário do que sucedeu com a ameaça totalitária soviética. É que, como a Guerra Fria demonstrou, o mundo soviético era ainda algo com o qual se podia dialogar, isto é, sendo totalitário era ainda assim moderno, não se auto-excluía de uma racionalidade imanente à existência histórica. Face a ele uma resistência era pensável e exequível. Face ao irredentismo terrorista, o homem tardo-moderno, niilista passivo, prefere a negação até ao ponto da auto-negação, a confrontar-se com um inimigo exterior à lógica do seu mundo. Fernando Gil, nos textos de controvérsia depois de 2001, distinguiu aliás em várias ocasiões o «perigo vermelho» do islamismo radical através dessa dimensão racional que o primeiro manteve, descendente que foi das altas esperanças emancipadoras e progressistas do pensamento de Marx (sem hífen para Lenine). Entre a democracia liberal e o totalitarismo soviético, o choque foi entre modelos de sociedades modernas, nascidas da autonomização do poder do Estado face aos poderes religiosos. Esse processo, no Ocidente, arrastou-se por séculos e custou milhões de vida em guerra que ficaram na História como Religiosas. Nelas, as Igrejas foram vencidas e forçadas à tolerância (que hoje há quem julgue coisa pouca). No mundo árabe, falho de centralização quer religiosa quer política, tal dinâmica não se pode reproduzir, e a persistência em formas pré-modernas de organização social é tudo menos acidental, pelo que não será alterável por simples voluntarismo de terceiros. Sobra, assim, o desejo de uma causalidade não-politica para compreender o destino dos seus símbolos (Bin Laden hoje, outro no futuro) e a crença na redução aos termos mais banais do nosso mundo de tudo aquilo que surge como radicalmente estranho a ele (como no «pensamento» do agora na moda Zizek). A notícia da morte de Bin Laden pode ser tão pouco factual como as teorias conspirativas do 11 de Setembro, mas ambas são peças de um todo bem real, o de uma psicologia vulgar digna do termo (de novo Gil e Tunhas) «suicídio ideológico». Mas, como denunciar a má-fé em casos concretos não me parece programa suficiente, resta saber como melhor curar esta nossa febre. CL
Caro Luís Mourão, Apesar de concordar com a sua arguta observação sobre as manifestações do tempo da outra senhora, há um equívoco: creio que me leu como se eu estivesse a renegar o seu ponto de vista. Ora, como escrevi no post de Quinta, o seu diálogo com o Rui é diferente por ser interessante, logo… Repare: eu não disse que a sua posição não era política, disse que não era boa política. É outra das tais discordâncias benignas: eu entendo que as diferentes possibilidades de leituras dos textos, sendo reais em todos os textos, politicamente são questões menores face aos usos sociais que essas leituras conhecem, isto é, face a uma ou outra tornar-se dominante enquanto todas as outras são ignoradas. A questão é «para que coisas dão» os textos, creio que podemos concordar nisto. O discurso do Papa, em que uma leitura simplesmente completa desmonta a polémica, é um bom exemplo, pois essa leitura, em sociedades sem instrumentos de mediação modernos amplamente difundidos (não basta haver aliados nossos se a rua deles os ignora), provavelmente não será feita. Ou melhor, quem a faz somos nós (se não nos ficarmos pelos resumos televisivos). Quanto a ser benignos para todos, justamente o meu post centrava-se nisso mesmo. O problema é todavia aquele que (se) levanta, que fazer com quem activamente quer ser maligno? Agora, conversas a três geralmente dão em partes gagas. Obrigado pelos vossos comentários e links (às vezes penso que é moda não linkar o esplanar), mas continuem, eu não quis interromper. CL
Sou ateu. Nada de especial, vivo sem Deus e sei como se construiram as sociedades modernas. Não sou agnóstico, por saber que uma questão de fé não se reduz a outra de conhecimento. Não precisei de mandamentos de um ser («Ser») omni-tudo-e-mais-alguma-coisa para me portar decentemente. Sou um ateu «normalizado», sem grandes esperanças na falta de futuro da ilusão. Mais uma vez, a exigência de desculpas (desta vez de islamitas a católicos) deixa-me perplexo com o esquecimento dos ateus. Todos os dias, não há fanático ignorante da sua própria religião que não perore sobre a «crise de valores», «o relativismo», «a decadência de costumes», e muitas outras coisas ainda muito piores, atribuindo-as a «uma época que não escuta Deus» e outras pérolas do género com que encobre estar a falar para os seus (não praticantes), muito mais do que para ateus pacíficos e civilizados que vivem tranquilamente uns com os outros e, até, com crentes preconceituosos, violentos e antipáticos que nos insultam sem nos conhecerem de lado nenhum. Daí a perplexidade com o esquecimento: quando é que os «crentes» se vão lembrar de nos pedir («exigir» é ameaça, nem conta para nada) desculpa por todos os insultos, calúnias e ameaças que todos os dia nos fazem? Afinal, nenhuma doutrina política, filosófica, etc., tem no currículo tantas mortes, perseguições, crimes de todo o género como qualquer uma das grandes «religiões» (irónica designação, a não ser no que de sarcástico mas infelizmente real ela comporta). Como ateu, não preciso das desculpas deles para nada, bastava-me que deixassem de aumentar o seu longo currículo de barbaridades. Mas estranho que tanta gente fale das desculpas necessárias do Papa ao Islão (para me cingir a este caso) enquanto não há quem se lembre dos mais constantemente atacados, sem qualquer justificação. Os ateus. Será por não andarmos por aí a falar em público do nosso Absoluto para justificar massacres? De qualquer modo, por mais que ameacem, ou sejam cúmplices com os que ameaçam (quando convém), não tenciono converter-me. Pela razão e pela ética, passo bem como estou. E não ofende quem quer... CL PS - A única troca de ideias interessante que vi sobre a polémica em curso é entre Luís Mourão e Rui Bebiano. Mourão interessa-se pelas ideias dos textos, menosprezando o efeito mediado das suas interpretações, como bom teórico literário (e mau político). Bebiano interessa-se mais pela dimensão política do que pela literal, como bom historiador (e polemista irénico). É um desentendimento incurável, mas amigável. Benigno, como é possível entre não-crentes.
Uma blogger cínica quanto às virtualidades cívicas do meio informa-me de dois posts sobre Darfur, aqui e aqui. Parece que a 30 de Setembr, infleizmente, haverá motivos fortes para voltar ao tema. Já os leopardos parecem despertar menos atenções...
O dia 17 de Setembro, data de evocação do Darfur (é assim que se escreve? vi tão poucas referências...), passou em claro aqui e em quase todo o lado. Mas boas causas, felizmente, há muitas, como esta. CL
O post definitivo (até às próximas novidades, decerto tristes, claro) sobre a nova polémica da (pseudo) «rua islâmica» está, sem surpresa, aqui («caricaturas-parte 2»). CL
É de prever que o jogo de ontem dê conversa por bastante tempo. Espero que seja mais interessante que a dos amigos do povo, que já por lá comentei. A verdade é que a troca de mails entre o esplanar e um seu leitor que de seguida se publica pelo menos permite acreditar que é possível falar civilizadamente de bola. Isto entre os que não sofrem do benfiquismo nacional de que já Eduardo Lourenço falou e são adeptos do único grande clube que não está envolvido nas escutas do Apito Dourado…
Espero que dê o braço a torcer quanto ao nosso Sporting
saudações ja
2) From: CL Sent: Wednesday, September 13, 2006 5:17 PM
Caro leitor, Suponho que esteja a falar comigo, por isso respondi no Esplanar [13 de Setembro]. Mas não disse tudo o que penso para não soar professoral. Espero que em privado não me leva a mal, tal como eu não levei essa do braço a torcer. É que o braço, se bem o entendo, não é aquele em que pensa. É o do Paulo Bento. Eu explico. Se vir o que escrevi sobre o jogo de apresentação com o Inter verá: critiquei os laterais muito defensivos; os dois trincos e a não utilização do Veloso; a opção pelo Bueno em vez do Djaló. E talvez se lembre que essa defensividade foi até reconhecida pelo Bento que no fim do jogo disse que tinha faltado ambição. Ontem as mudanças foram exactamente as que me pareciam ser necessárias. Eu fiz o que faço, escrevi. O Bento fez o que faz, treina. O resultado foi o previsível, atrevemo-nos e conseguimos. Nem as estrelas do Inter nem o árbitro o impediram. E mesmo achando eu que devemos bastante à sorte, acho que foi muito merecida a vitória, por a termos procurado, coisa que não tínhamos feito há um mês. Ainda me quer torcer o braço? Eu limito-me a não pensar que somos os maiores quando ganhamos e que a culpa nem sempre é do árbitro quando perdemos, e de campeões da pré-época já estou saturado... O que eu continuo a dizer é o que tenho dito até aqui, portanto. Temos um plantel curto (ainda no último fim de semana foi preciso convocar um junior para o banco) e não somos favoritos a passar a fase de grupos. Mas na UEFA acredito e acredito em ganhá-la. E como talvez tenha lido no dia 10 de Agosto, acredito muito nas nossas chances internas. Saudações CL
3) From: "Joaquim A. Date: Wed, 13 Sep 2006 22:17:05 +0100 Tem razão. Enganei-me no destinatário. Peço desculpa por o ter tratado pelo nome errado. De verdade eu leio o vosso blogue com regularidade e muitas vezes recolho a informação sem fixar o autor. Ao contrário do que possa parecer acho que é mérito da equipa que fazem. Tal como no futebol: quando a equipa joga bem todos são donos da vitória ( será que me saí bem com esta explicação ?'').
Eu gosto mais de literatura do que de futebol. E leio o vosso blogue exactamente por causa disso. Parabéns pelo vosso trabalho e pelo vosso empenho.
Quanto ao nosso Sporting... só quis dar um ar da minha graça ( eu sou daqueles que nunca diz nada com graça mas de vez em quando esqueço-me).
Costumo ver os jogos com regularidade numa cadeira de leão ao lado de sportinguistas que só dizem mal e assobiam. Acho incrivel como é que alguém compra um bilhete, ou uma cadeira, para ver os jogos do seu clube e vai para o estádio para assobiar e dizer mal. Aquilo é para um homem se deixar ir na onda e esquecer as regras do mundo merdoso que vivemos fora do estádio. Lá dentro vale tudo menos dizer mal da nossa equipa. Mesmo com os jogadores a caírem e a falharem golos...a paixão não pode vacilar.
Compreendo as suas críticas. Todos os sportinguistas, incluindo eu, fariam uma equipa diferente para cada jogo, apesar do plantel reduzido.
Só mais uma nota: vejo os jogos com um puto de 15 anos ao meu lado que já é maior que eu e gosta mais de futebol que eu gosto de ler um bom livro (conto isto para reforçar o meu espírito de adepto que vai ao futebol com o prazer de alguém que logo a seguir ao jogo entra no cinema para ver o Super Homem)
Um abraço Joaquim A
4) From: CL Sent: Friday, September 15, 2006 12:33 PM
Tem toda a razão no que diz sobre o espírito de ir à bola. Eu não tenho ido, daí também o tom mais desapaixonado, que é cansativo para quem lê (e para quem escreve). Mas conto ir daqui a uns anos, quando o meu puto tiver idade para isso - e não sei se prefiro um grande jogo que acaba a 0-0 (como o SCP Inter de há 15 anos que vi ao vivo) ou um jogo apenas agradável que termina com o resultado que queremos e que era justo. Em qualquer caso talvez nos encontremos todos lá. Sobre literatura conto voltar a postar sobre o tema em breve, sobretudo ensaios. Obrigado pelo interesse, escreva quando quiser. Saudações leoninas a ambosCarlos Leone PS Esta troca de mails também dava um bom post «correio de leitores», combina duas coisas raras: conversas sensatas na bloga e sanidade sobre futebol. Se eu tiver tempo, dá-me autorização para publicar (posso extrair o seu nome e morada, claro)?
5) From: "Joaquim A Date: Fri, 15 Sep 2006 23:35:37 +0100 claro que pode usar se quiser com nome...não há problema
Sou amigo (conhecido para ser mais exacto) de alguns dos vossos inimigos e com eles não troco correio mas isso não me incomoda
aliás um dia podemos falar disso se nos encontrarmos por aí
saudações ja
6) From: CL Sent: Saturday, September 16, 2006 7:33 PM
Boa tarde, E obrigado! Não sei se o vou fazer, mas é provável. Sobre os inimigos, sei que o JPG tem o ódio de estimação da snrª do nome registado mas não sei quem serão os outros, talvez falemos disso um dia, então. abraço (e fezada para logo à noite) CL
7) From: "Joaquim A. Date: Sun, 17 Sep 2006 02:01:15 +0100 Estou chegar de alvalade que grande desilusão mas batemo-nos como verdadeiros leões
para mim isso é tão importante como a vitória
Um abraço ja
8) Domingo à tarde Olá Está melhor hoje? Só vi até aos 80', percebi que ela não ia entrar. Hoje vi o lance do penalty sobre o levezinho, parece mesmo. Mas acabei de deixar isto num blog leonino, King Lizards, não sei se vão incluir na caixa de comentários ou não, por isso aqui fica: «Como já tive algumas trocas de links com o KL, via Raul Henriques, espero que não se importe com um comentário grande. 1) é golo ilegal e tem aspecto de ter havido penalty sobre o Liedson, sim. Mas mesmo assim é preciso a repetição para ver a mão; 2) Fora isso, há tudo o resto, e vale a pena lembrá-lo para não fazermos a triste figura de nos queixarmos de a «influência» do Paços ser superior à do SCP; o Bento fala do APito, mas foi o presidente do SCP que, na última época, não encontrou melhor altura para se demitir que a antevéspera de uma meia final da taça contra o Porto (e viu-se a maior roubalheira deste século nesse jogo, maior até que as arbitragens do último título do Benfica); 3) O plantel é curto, ainda na semana passada foi preciso um junior e agora viu-se como estamos dependentes do Liedson que, em 4 jogos, marcou 0 golos: a culpa é do árbitro?4)Qual o motivo de jogarmos com dois centrais a laterais? Na apresentação contra Inter fez-se isso e ficou a 0 apesar de eles terem ficado sem um defesa; na Champions alterou-se e ganhámos apesar do árbitro ser também muito mau; agora, volta outra vez aos dois centrais a laterais, que puxam a equipa para trás (como os dois trincos em simultâneo); Ronny só dá meio jogo? Abel perdeu a forma desde 3ª? Tello e Alves não são opções? Gostava de saber a resposta de Paulo Bento. 5) Polga e Ricardo dão demasiada insegurança quando estão juntos.O golo foi com a mão, mas a jogada é igual a outras, neste e noutros jogos: a bola passa por toda a área (grande, pequena, passa sempre) e o avançado está completamente solto. A verdade é que só não sofremos golos quando os outros abdicam de atacar, como fez o Inter e (segundo li) o Nacional. Quem sabe contra-atacar (Boavista, Paços) marca sempre. 6) Só é possível ter uma grande equipa a sofrer estes golos se marcar muitos, como o dream team do Barça. Mas as 3 vitórias do SCP tinham sido sempre à tangente. ora nem sempre há o milagre de o Deivid fazer algo de jeito ou de Nani marcar golões...7) É preciso um reforço para o miolo defensivo e outro para ajudar Liedson (só Alesandro não chega, mesmo que seja bom) em Dezembro. Já se sabia, pelo menos aqueles que são muito «pessimistas» já o tinham dito. Mas convém que o Bento não jogue com 5 centrais sem necessidade. Desculpe(m) o testamento, SaudaçõesCL PS - E se jogamos à 3ª e ao Sábado, não havia outro campo para o Setúbal usar?»
Não pus no Esplanar para não ficar outra vez demasiado desapaixonado... Saudações leoninas! CL
(PARA OS LEITORES NÃO DOENTES DA BOLA, PROMETE-SE DAR POR UNS DIAAS DESCANSO AO ASSUNTO.) CL
O Sol não desilude, é de facto aquilo que o seu director anunciava. Um projecto que é bem a imagem do seu criador. De volta a política, sim, com uma notícia sobre o imobiliário de Isaltino e uma comparação entre políticos portugueses, sem sequer distinguir entre os da democracia e os da ditadura... mas além da política há mais e é nesse mais que, realmente, o jornal pode vir a vingar. Quer-me parecer que Saraiva não se engana e que aquelas páginas com textos telegráficos sobre coisas rosadas (já para não falar de entrevistas como a da impagável Mónica) vão ajudar a vender o semanário ao mesmo público que sustenta as não sei quantas revistas femininas deste país. É um «nicho», e, de qualquer modo, a concorrência, em termos de informação séria, não faz melhor. Sobre o Sol é ainda muito cedo para tirar conclusões, claro. Sob o Sol, já se sabia, há o público da senhora do nome registado. CL PS - E inesperada, a piada sobre o semanário que não oferece brindes e não faz promoções...
Oriana Fallaci morreu, depois de uma vida de jornalismo sério, no tempo em que os jornais o queriam. Não por acaso, nas últimas décadas escrevia sobretudo livros. Agora que tem início um novo choque de intolerância entre as religiões do amor, da bondade, da Paz, etc., sedeadas em Meca e no Vaticano, é ainda maior a pena por já não a ter entre nós. CL
Já aqui deixei referidos posts de outros blogs por fazerem tão bem ou melhor do que eu seria capaz um comentário ou análise a algo relevante. Hoje, ficam dois: «Obituário de um historiador», de Fernando Martins, no Amigo do Povo; e a série de posts sobre as polémicas criacionistas de Vasco M. Barreto na sua excelente Memória Inventada. CL
No Aspirina B, Fernando Venâncio escreveu: «Mais selecto, mas igualmente fino, é um blogue que (julgo) acaba de surgir, «Não li nem quero ler», e que lembra o JPG (Recordam-se? O Leone dá boa conta da loja, mas que é feito, George?), conseguindo ser ainda mais feroz. Por exemplo, este apontamento, que não aumenta a glória de José Luís Peixoto - o autor, de resto, de algumas (outras, não li essa) rutilantes crónicas no JL.» Obrigado pela lembrança cá da loja, percebe-se que não é um insulto. Sem responder pelo JPG (de licença), apenas uma observação: aquilo que se faz no blog «Não li nem quero ler» não tem muito que ver com o Esplanar. Se o JPG se confundisse com gente que chama jumento a um escritor e não contente com tamanha 'crítica', ainda monta uma imagem para ilustrar, nunca me teria passado pela cabeça dar conta desta loja. Bem sei, não falta no público quem tome semelhantes coisas por «crítica cerrada», e o pior é haver críticos que assim pensam. Mas até um juiz percebeu que o JPG não é deste nível. Aliás, é por isso que ele assina em vez de se esconder no anonimato. CL
Afinal, o correio dos leitores parece ter pegado. Um leitor escreve a João Pedro George, sugerindo-lhe que dê o braço a torcer a respeito do Sporting. Engano no destinatário? Como o JPG está ausente por vontade própria (apesar de eu lhe enviar as mensagens das leitoras mais ansiosas que escrevem para o Esplanar), respondo eu. Neste blog não se quer mal ao Sporting, bem pelo contrário. E, tanto quanto sei, sempre que a descrença ficou aqui registada, ficou também o desejo: «espero bem enganar-me». Por algum motivo, hoje não resisti a comprar o Record... CL
Algo me diz que isto não se vai tranformar numa secção regular. Mas esta pergunta fez-me reparar numa polémica literária noticiada ontem: «Caro CLeone: que me/nos diz do assunto hoje (11-9-06) exposto na página 26 do Público (livro da polémica na rentrée francesa)?.» Pois digo, estimado leitor D. A., que por cá o meio não é muito diferente, nem muito mais interessante. E que, de facto, como de resto já escrevi, o problema está no que sucedeu à noção e à prática de mediação no tempo dos mass media. Mas não me quero repetir... E obrigado por me ter desviado do post que eu ia escrever sobre os esforços do Público para salvar a imagem do FCP à custa da dos outros, o clubismo daquele jornal é tão descarado e antigo que seria um post com atraso de muitos anos... CL PS - Mesmo evitando o sempre deprimente «Prós e contras», o barulho em torno do 11 de Setembro foi muito mau. Hoje vi citado no Público um pensamento de José Gil, publicado ontem, que é mesmo péssimo. Mas salva-se pelo menos o «Ainda haverá vagas em Guantánamo?», o «Prós» e os dois posts aqui.
Resposta à pergunta: «onde estava no 11 de Setembro?»
Estava em casa, a preparar-me para continuar a tradução do Testamento Político do Cardeal Richelieu (esse mesmo), ainda hoje por publicar. Já com o controlo remoto na mão, parei, a ouvir Paulo Camacho (SIC Notícias) explicar que a imagem no ecran era do World Trade Center, e que parecia ter colidido um avião com uma das torres. Enquanto falava, nas suas costas, as imagens mostravam o segundo avião a chocar na torre ainda intacta. Eu vi-os morrer. Por isso não cheguei a desligar a TV, e por todos os motivos concebíveis nesse dia não traduzi. Mas tenho a sorte de ser um dos poucos para quem o «11 de Setembro» nunca será «essa» data. Para mim já era, como vai continuar a ser, o dia de aniversário da senhora minha Mãe. CL
Eduardo Pitta pergunta, muito a propósito, pela razão de os editores portugueses terem algum problema com índices. A resposta é simples: custam dinheiro, por exigirem trabalho especializado, e não acrescentam nada à visibilidade do livro na comunicação social, que por norma se preocupa mais com as capas. É que não são só os editores que não querem saber de índices, isto é, não querem saber muito dos leitores para os quais um livro é também uma fonte de consultas... E os editores que querem, aqueles que fazem edições cientificamente cuidadas (índices e não só, portanto), esses que tratem de gastar dinheiro em publicidade. CL
Muito discreto, mais do que devia, o conjunto de anotações de Pedro Mexia sobre liberalismo. Bem superior à fórmula gasta, evocada a pretexto de O Independente, «conservador em política, liberal em cultura» (contradição em termos desde a Revolução Francesa, mas quem se incomoda com isso?), na série de posts no seu Estado Civil, e em diálogo com outros blogs, tem-se criticado várias vezes o carácter racionalista do liberalismo. Não por acaso cita poucas fontes, não há «o» liberalismo, nem pode haver, quando o liberalismo político se faz sempre em função de costumes anteriores que, em tese, se liberalizam (esta foi, em parte, a crítica que fiz a um livro de Alexandre Franco de Sá, Metamorfose do poder). Quando essa liberalização de costumes não se verificou (como sucedeu em Portugal), tanto o liberalismo como doutrina política como as formas políticas suas adversárias (comunismo e fascismo) permaneceram presas de costumes e estruturas sociais tradicionais avessos quer à racionalidade liberal, quer às movimentações de massas que comunistas e fascistas evocam sem se aperceberem que só em sociedades modernas elas podem existir com a plasticidade que ambos os movimentos pretendem (questão que já foi aqui referida numa série de posts anteriores). Mas mesmo mantendo a discussão a um nível estritamente teórico, a escolha de Hayek não colhe. O que ele criticava no racionalismo em política era a sua radicalização positivista, aquilo a que Hayek chamou o erro construtivista. Pretender aplicar sem mais essa acusação de racionalismo ilimitado ao liberalismo político, o qual se limita a pertencer a um processo de modernização específico do Ocidente, não cola muito à experiência que conhecemos (quem são esses liberais, afinal?) nem cura muito da teoria. Mas essas, em bom rigor, são marcas da ficção conservadora, essa criação moderna concebida para renegar a realidade da mudança… CL
Recomendava eu há dias «paciência» a Sérgio Lavos, a respeito de «esquecimentos voluntários cuja elegância dispensa comentários»… Pois no Mil-Fohas de hoje, o mesmo Augusto M. Seabra que ainda ontem nomeei, refere os meus posts de há uns meses sem me nomear, ou ao Esplanar, mesmo quando reproduz o título desses posts («A crítica não morreu, mudou de função»). Repito-me, paciência, é um estilo, ou falta dele. Dizia mesmo a Sérgio Lavos que até há coisas piores… e não é que Seabra me confunde com EPC?! Aquilo é uma confusão, até o velho Gaspar Simões é chamado ao caso, mas mesmo assim entristece. Mas não espanta, já a 17 de Junho, no Mil-Folhas, Seabra escrevia, num artigo ilustrado com a capa do livro do João Pedro George Não é fácil dizer bem (Tinta da China, 2006) a seguinte pérola: « “Não é difícil dizer bem” é título sintomático (…)». Pois é, sintoma da confusão que vai na cabeça de quem escreve assim, sempre em querelas e sem responder às perguntas e «questões cruciais» que inventa, julgando que basta insultar os outros (sem sequer acertar no nome) como «pseudo» argumentadores. E imaginando-se (não se riam) «meridianamente claro». Sintomatologia grave. CL
Não estive na rádio mais cá de casa, a Radar, mas aceitei o convite para conversar com Paula Moura Pinheiro sobre Europa e Portugal no «Unidos na Diversidade» a emitir hoje às 10h, e depois a repetir às 20h, na Rádio Europa Lisboa (antiga Paris-Lisboa, 90.4fm, também na box da netcabo e audível ainda no site www.radioeuropa.fm). Não me acho nada «radio friendly», por isso ainda pensei em sugerir um alinhamento com M Ward e The National para dourar a pílula. Mas a conversa ocupou a hora toda, pelo menos têm a voz da Paula Moura Pinheiro. CL PS - Ou tiveram, da rádio avisam-me que a emissão, afinal, foi ontem...
O debate sobretudo blogo-esférico em torno dos terroristas nas barraquinhas da Festa (ainda bem que não há outra como aquela!) provavelmente nunca sairá verdadeiramente deste âmbito para o outro, político, onde devia estar. Mas, ao menos aqui, convém notar algo que por estes dias também se comentou a respeito de outros assuntos, a relação entre violência e política. Ontem, justamente a propósito dos discursos na Festa, Prado Coelho perguntava pelo sentido de referir Lenine na política de hoje. Cultor de longa data das tácticas leninistas (que nesse mesmo dia lhe valeram um processo judicial por parte do presidente do Gil Vicente…), Prado Coelho sabe bem a resposta, e em qualquer caso o artigo ao lado do seu (de Rui Ramos, sobre o entusiasmo no Ocidente pelos terroristas islâmicos) explicava: para justificar a violência como política. Não «violência em política», coisa inevitável e não inteiramente nociva (leia-se Weber). Mas «violência como politica», seja na forma do insulto gratuito como o de EPC (ao presidente do Gil Vicente hoje, como ontem ao J. P. George ou a Augusto M. Seabra, para não me alongar), seja na forma mais prática de acção directa, de substituição da discussão pública racional, dentro de um contexto legal e com sentido de responsabilidade, pela simples eliminação do adversário. O artigo de Rui Ramos não adiantava nada, a não ser novos exemplos, ao que Fernando Gil e Paulo Tunhas já escreveram sobre a má-fé intelectual e as coincidências entre os extremos políticos do Ocidente com as formas negadoras da vida Ocidental (como o islamismo pré-moderno). Mas o relevante é que haja sempre mais a acrescentar… Agora que nos aproximamos desse triste aniversário de próxima Segunda, o debate sobre as FARC tem o mérito de nos lembrar como o terrorismo está bem próximo e de como, mais do que quaisquer declarações de princípios teóricos ou pessoais, a cumplicidade com ele, nos argumentos e na socialização, é frequente. Sim, Lenine e o seu elogio da violência como política estão bem vivos, falando como EPC, festejando como o PCP, ou matando como os partidários de Deus. Fazem, infelizmente, sentido. CL PS – Se me quiserem contradizer, cá espero pelos argumentos. E fica desde já o aviso para prevenir a conversa do «terrorismo de Estado»: os cidadãos livres, as instituições responsáveis e o país a que tanto devemos fizeram o campo de Guantanamo, mas irão, mais cedo ou mais tarde, encerrá-lo. Pois são eles os seus primeiros e principais contestatários. Pudera eu sequer acreditar em algo semelhante a respeito dos cultores de Lenine…
Ao encerrar a Festa do Avante, Jerónimo de Sousa perguntava aos militantes e votantes socialistas se os apoios do grande capital ao PS não os incomodavam. Pela minha parte, não dou por grandes apoios, mas em qualquer caso posso responder pela negativa. Já as notícias em vários blogs (por exemplo no A Origem das Espécies) sobre terroristas sul-americanos «representados» na Festa, isso sim, já me incomoda. CL
O mês passado ligou-me João Morales, director da revista Os Meus Livros (www.oml.com.pt). Queria uma foto minha e explicou-me que a coluna «aposta em» iria ser, em Setembro, escrita por Francisco José Viegas, que me referia entre as suas apostas. Enviei um perfil muito informal, já que não quiseram uma gravura da Adriana Molder. E fiquei à espera. Ontem de manhã, pessoa amiga do meio editorial liga-me a avisar-me do que estava no novo número da revista. Agradeci e fui ver. Como já não encontro o Francisco há uns bons tempos, segui-o como pelos vistos ele me segue a mim, à distância, e isso tem custos. Agora dirijo a Prelo, sim, mas a Lusófona e a sua filosofia, mais a revista que lá editei, já fazem parte do passado. E o livro sobre os estrangeirados faz agora apenas um ano. Isto são pormenores, claro, gostei de ler as apostas e, no que me diz respeito, gostei de ver que o Francisco se lembrou de mim justamente pelas qualidades que eu tento cultivar, um acerto também ele muito raro e que dá boa conta da causa de já termos feito coisas juntos em vários sítios. Acima de tudo, gostei de a lembrança do Francisco não me referir como «simples promessa» mas como «promessa cumprida», agora que a paternidade me relembra a todo o momento o passar dos anos… Longe vão os tempos da «Escrita em dia»! CL PS – A revista tem como tema de capa o 11 de Setembro. Mas, do que já li, a entrevista a Gonçalo Bulhosa e a reportagem sobre bibliofilia podiam ser capa, noutro mês. E o que dizer da análise do mercado em «Descubra as diferenças»? Só lido…
Tal como já sucedera no «o mal dos blogs (2)», também a conclusão do post, publicada ontem, me deixa um pouco perdido. O que não é problema grave, mas limita um pouco o comentário. Se Sérgio Lavos salienta a função opinativa dos blogs e não vê mal nisso, de acordo. Se julga que eu vejo, posso assegurar que não é o caso (e não por relativismo ou falta dele). Os sentimentos parecem variar mais que as visões do meio, o que se explica pelas actividades anteriores (e, se calhar, actuais). Fora isto, suponho que a referência a blogs onde esta troca de pontos de vista é comentada sem nomear o Auto-retrato (e o Esplanar, acrescento) seja feita a pensar no A Terceira Noite e no Kontratempos. Quanto ao caso, e abstraindo deste ou de outros visados em concreto (o post do Rui Bebiano tem uma lógica legítima), só posso recomendar paciência. Portugal não muda, e tal como as revistas on-line reproduzem as de papel (a NON fazia-o, e nem era «ímpar», pense-se no Ciberkiosk), nos blogs também se multiplicam esses esquecimentos voluntários cuja elegância dispensa comentários. Eu já quase nem ligo, neste caso como noutros, e nem é por haver coisas ainda muito piores. De novo, o mesmo ponto de vista, varia «só» o sentimento. Sobra o resto dos posts (2) e (3), a começar pelo título, de facto tenho a impressão de não ter percebido bem. Problema meu, haverá outras oportunidades. CL
Uma troca de posts entre o Esplanar e o Auto-Retrato, há pouco tempo, deu origem a alguns ecos mais ou menos públicos. No seu A Terceira Noite, Rui Bebiano lembrou (e deu links para) a NON e a Zonanon, antecedendo o mundo dos blogs. E, por mail, o director da revista NADA perguntou-me se eu conhecia a publicação. Não tanto como agora, confesso. E é bom ver como há muita coisa em papel que nada deve em termos de originalidade face à Imprensa generalista mesmo comparando com os melhores blogs. No caso da NADA (www.nada.com.pt) gosto particularmente do grafismo (apesar de ser um desafio para a minha miopia) e das entrevistas. Permito-me destacar uma que já tem dois anos (NADA nº 3, 2004), «em casa de Hermínio Martins». As histórias do Hermínio Martins são sempre fora do comum, dois anos depois a entrevista lê-se como se tivesse sido feita hoje. CL
a revolução que é cooptação: Portugal no seu melhor
Muito se escreveu ontem sobre a revolução causada pelo surgimento de O Independente. Não mudei de ideias: foi um símbolo de um processo geral da Imprensa portuguesa, e a mudança da comunicação social para fora da cultura de Esquerda, em qualquer caso, é sobretudo obra da TV privada. Até por isso mesmo a recente acusação de censura feita por Eduardo Cintra Torres à RTP é significativa. Não tanto pelo descaso que exibe ao fazer a acusação sem indícios (provas só se exigem em tribunal), baseado em «fontes» que protege como «jornalista» apesar de a coluna ser supostamente de «crítica». Isso indica, apenas, o que não valem o Provedor, o Livro de estilo, etc., do jornal. Não, o caso indica bem como a suposta revolução limitou-se a substituir uma ideologia comunista, ou perto disso, por uma ideologia supostamente liberal. No tempo de Morais Sarmento, a RTP não censurava, e Cintra Torres comparecia para abrir o Canal 2 à «sociedade civil». Hoje, esse bondoso ex-governante que nunca se interessou por alinhamentos noticiosos que é Marques Mendes até é apontado como exemplo de coragem e frontalidade na Oposição. Pois, a «revolução» (sobretudo televisiva, insisto) deu nisto: temos uma versão up to date de Mário Castrim. CL
Hoje acaba O Independente, e para variar deve esgotar a tiragem. Ou, talvez melhor, o Indy já acabou há muito tempo, aos poucos, talvez mesmo antes de dar como perdida a meta de vender mais um exemplar do que o Expresso. É simbólico que acabe apenas duas semanas antes de surgir o próximo challenger do Expresso (que aprendeu com a lição do seu antecessor e anuncia não pretender suplantar em vendas o semanário de Balsemão). Simbólico de um jornalismo que nos anos ’80 surgiu e morreu sem remédio, sendo O Independente o seu último resto. O Liberal, O Século (de Albarran), a Sábado (entretanto renascida), e outros que já não me ocorrem viveram de um boom criado pela europeização dos costumes induzida pela adesão à CEE e foram dos primeiros casos de insucesso da nossa economia em corresponder aos desafios da competição. Tal com as TV’s privadas, tentaram sobreviver nivelando por baixo e o resultado foi a agonia. No caso do Indy foi longa. Apesar de não se notar logo nas vendas, começou com a saída de director do MEC. Para quem pertence à geração de leitores dos anos ’80, como eu, terá sido uma mudança decisiva. O jornal partidarizou-se e, mudado o governo, com isso perdeu sentido. Mantive-me fiel por causa de Júlio Pinto. Mas quando ele morreu deixei de comprar. Ainda segui regularmente a edição na net (esqueço-me do nome de um tipo da publicidade que escrevia crónicas cheias de piada) mas quando ela entrou «em manutenção», por um tempo indefinido, cansei-me. Depois disso, quando reparava nas manchetes, não me interessava. A última de que me lembro foi «Um livro do Carrilho»… Não me arrependo de ter deixado de o ler, não lhe vou sentir a falta. Mas foi durante algum tempo um caso único em Portugal (bem diferente do Público, que foi sempre o jornal que é hoje, embora tenha sido melhor do que agora é). Por isso escrevi este post vestido com a minha T-shirt de estimação, comprada no tempo áureo do Indy. Não posso scanná-la, deixo o texto que exibe: «Incontrolável. Inevitável. Inconveniente. Insuportável. Incorrigível. Inteiro. Inteligente. Insubmisso. In». CL