Ele ainda há-de acabar presidente da junta de Alguidares de Baixo. E, nesse dia, continuará a sonhar com o secretariado-geral das Nações Unidas e a citar, a torto e a direito, Francisco Sá Carneiro. Permanecerá, mesmo depois do internamento no hospital psiquiátrico, obcecado pelos seus delírios de grandeza e a ilusão de que tem poder e ainda virá a ter mais.
Santana Lopes é o oposto de António Vitorino. E ambos podem ser criticáveis. Enquanto todos parecem desejar o ex-comissário europeu para ocupar todos os cargos e mais algum, e ele os afasta e prefere seguir a sua vida pessoal até que venha um convite que considere verdadeiramente aliciante, Santana é aquele a quem já ninguém telefona, mas insiste em aparecer à porta de todas as festas. Aceitará todos lugares vagos para continuar a respirar à tona de água porque, pelos vistos, para ele, nada resta depois da exposição pública. O homem Pedro Santana Lopes não existe; apenas a imagem bidimensional que quer estar nas fotos, nos ecrãs. Mas alguém lhe deveria inverter o velho provérbio romano: não se trata da mulher de César que, além de ser, tem de parecer; trata-se também de, além de (a)parecer, ser.
O hino que acompanhou Pedro Santana Lopes na campanha falava num “guerreiro menino” - não deixava de ter razão. PSL é, de facto, um guerreiro menino. Uma criança trapalhona que brinca às guerras até acreditar que elas estão, efectivamente, a acontecer. E que vai perdendo membros e sofrendo feridas. O problema é que, em volta, não existe guerra alguma. E, no entanto, os golpes e as amputações estão lá. Porquê? Porque foram auto-infligidos. E ele nem deu por nada. E continua a esbracejar, de espada em punho, desafiando a sua própria sombra.
Alexandre